postado em 11/03/2013 18:04
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta segunda-feira (11/3) que a Ação Penal 470, o processo do mensalão, não teria chegado ao Supremo Tribunal Federal (STF) sem a atuação do Ministério Público na etapa de investigação. Segundo Gurgel, a Polícia Federal trabalhou bem, mas não estava ;em melhores condições; de apurar os fatos devido à complexidade política do assunto.;Digo com segurança que não haveria Ação Penal 470, tal a importância do Ministério Público;, disse o procurador, em entrevista na tarde de hoje. ;Houve trabalho da polícia, mas o Ministério Público fez toda a análise que foi a espinha dorsal da denúncia;, completou.
Na noite desta segunda-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) abre seminário que discutirá o poder de investigação do Ministério Público na Europa e na América Latina. O assunto está em evidência no Brasil devido à proposta de emenda à Constituição que garante exclusividade de investigação às polícias. Apesar de o assunto ser antigo no Legislativo, Gurgel acredita que o movimento ficou mais forte após o julgamento do mensalão.
Além disso, várias ações na Justiça também tratam do assunto. Não há consenso se a Constituição de 1988 permite ao Ministério Público complementar o trabalho da polícia. No STF, o assunto está sendo discutido no contexto do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel. O julgamento já começou, mas foi interrompido por pedidos de vista.
Gurgel explicou que a emenda constitucional pode limitar futuramente o trabalho do Ministério Público, mas que a discussão mais grave está no STF. Caso a Suprema Corte entenda que o órgão nunca poderia ter atuado na coleta de provas, há risco de anulação de milhares de processos. ;Tudo pode acontecer;, analisou.
Para o procurador, limitar a atuação do Ministério é dar um ;golpe mortal; na punição de crimes praticados nos estratos mais altos da sociedade. ;O [estrato] mais baixo é sempre apurado pelas polícias. É o crime de colarinho branco que demanda atuação do Ministério Público;. Ele lembrou que as polícias não têm as mesmas garantias de independência profissional que os promotores e procuradores.
Mesmo com as atenções voltadas ao Ministério Público, Gurgel não vê risco de interferência política na escolha do novo procurador-geral. A nomeação é feita pelo Executivo, e o processo de sucessão deve ocorrer ainda este ano. Ele lembrou que a escolha recai sobre uma lista tríplice preparada por entidade de classe desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Embora o método não seja obrigatório, ele espera que a tradição continue.