O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, classificou de "canalhice e de afirmações criminonosas" as acusações feitas pelo deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) de que sua esposa, a subprocuradora-geral Cláudia Sampaio, recebeu propina de R$ 280 mil do banqueiro Daniel Dantas. Gurgel disse que a imunidade parlamentar não protege o deputado de responder pelas acusações e afirmou que a tentativa de Protógenes é de causar seu impedimento de investiga-lo.
Reportagem publicada pelo jornal ;O Estado de S. Paulo; nesta quarta-feira (29/5) destaca que Protógenes fez as acusações no dia 9 de maio, durante uma palestra que proferiu na subseção de São Caetano do Sul (SP) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na ocasião, o deputado, que foi um dos delegados responsáveis pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, sugeriu que Cláudia Sampaio teria recebido dinheiro de Dantas para emitir um parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) favorável a quebra de sigilo fiscal, telefônico e bancário dele próprio, Protógenes, que é investigado em inquérito que tramita no Supremo.
;A palavra mais gentil que eu posso encontrar para isso, aliás não seria só contra minha esposa, seria eu também, é canalhice. Parece que ele ficou extremamente preocupado com o que poderá ser o resultado dessas diligências requeridas e então reagiu dessa forma intolerável, inaceitável;, afirmou Gurgel, em entrevista ao Correio no começo desta tarde.
;Na verdade, não dá para ficar discutindo ou batendo boca com uma pessoa que está sendo investigada, uma pessoa em relação a qual pesam suspeitas gravíssimas e que curiosamente faz essas afirmações logo depois de, em um inquérito que tramita no STF, eu ter requerido uma série de diligências investigatórias;, acrescentou o procurador-geral.
Protógenes é investigado no STF por ter foro privilegiado em razão do mandato de deputado federal. O caso corre em segredo de Justiça. Inicialmente, Cláudia Sampaio se manifestou pelo arquivamento da investigação. No fim de abril, porém, ela enviou novo parecer, dessa vez recomendando a apuração das denúncias contra o deputado. A acusação trata da suspeita de que Protógenes teria uma conta na Suíça e que a Polícia Federal apreendeu R$ 280 mil em sua casa. O ministro Dias Toffoli, com base no parecer de Cláudia, decretou a quebra do sigilo do deputado.
Roberto Gurgel afirmou que Protógenes não falava como deputado quando fez as acusações e que a imunidade parlamentar não o preserva de ser investigado pelo que falou contra sua esposa. ;Ele não falou na condição de parlamentar, a imunidade não o acoberta para chegar ao ponto de cometer esse tipo de coisa. Agora, também evidentemente ele quer provocar o impedimento do procurador-geral da República, como também de ministros do Supremo porque se o PGR representa contra ele não poderá mais atuar nas investigações. E eu faço absoluta questão de continuar atuando nas investigações;, frisou.
Questionado se tomará alguma providência, Gurgel afirmou que ainda está examinando. ;Neste momento não. Tenho seis meses para isso. Acho fundamental neste momento preservar a possibilidade de continuar investigando os gravíssimos fatos que envolvem esse parlamentar.;
Gurgel também não deu detalhes da investigação que tramita no Supremo contra Protógenes. ;Esse processo tramita em segredo de Justiça e, por isso, eu não posso infelizmente dar maiores detalhes. Só posso dizer que são acusações de extrema gravidade;, disse.
Na palestra, Protógenes havia dito que pediria à Justiça uma certidão que comprovasse que não houve apreensão da quantia em sua residência. "Essa mulher (Cláudia Sampaio) fez isso (...) Essa certidão vai ter que atestar que não existe 280 mil apreendidos, eu não sei de onde ela tirou, talvez seja os 280 mil que o Daniel Dantas tenha dado para ela, prá dar esse parecer... de cafezinho, né"?
Ao Correio, o deputado Protógenes Queiroz declarou, na tarde desta quarta, que não acusou a subprocuradora-geral da República de receber propina de R$ 280 mil do banqueiro Daniel Dantas. Ele afirmou que estava apenas sendo irônico quando proferiu a frase durante a palestra. "Eu fiz um silogismo. Na verdade, foi uma ironia. Eles afirmam, no parecer falso, que encontraram R$ 280 mil na minha casa. É mentira. Ninguém diz isso. Nem a Polícia Federal e nem a Justiça. Ela e o procurar-geral da República, Roberto Gurgel, vão ser processados criminalmente por mim", assegurou. Antes, fez questão de ressaltar que tinha imunidade parlamentar.