Leonardo Cavalcanti
postado em 22/09/2013 08:02
As ações de espionagem da agência americana de segurança revelaram a fragilidade do Brasil na proteção a dados e informações. Se faltam garantias à privacidade, especialmente na internet, desprovida de qualquer regulamentação nacional, os primeiros passos vêm sendo dados na prevenção de ataques cibernéticos, parentes mais perigosos da espionagem. A partir de vírus e outras armas digitais, podem destruir tanto as estruturas militares de defesa como aeroportos, hospitais ou hidrelétricas. Nesta entrevista, o ministro Celso Amorim fala sobre os avanços da política de defesa, num país que nunca levou tal coisa a sério, fazendo uma constatação e uma advertência: na defesa cibernética, estamos na infância. Mas como os outros países também estão, nosso ponto mais vulnerável hoje é o espaço aéreo, pela falta de aviões caça.
Em relação às ações de espionagem dos EUA, poderia ter havido alguma ação preventiva? Qual é o papel do Ministério da Defesa na segurança de informações?
Acho que, no Brasil, isso ainda não está definido. Em alguns países, existe um órgão específico. O Ministério da Defesa responde pela defesa cibernética, que é a defesa da Defesa nacional, digamos assim. Por ora, o que a nossa defesa cibernética pode fazer é algo ainda muito pontual. Estamos ainda na infância, não há como negar, mas não somos só nós. Os países europeus também começaram a se preparar recentemente. Uns em 2010, outros em 2011... Até mesmo o anterior secretário de Defesa, Leon Panetta, chegou a dizer que os EUA estavam sujeitos a um ;Pearl Harbor cibernético;. Dito isso, em nossa Estratégia Nacional de Defesa, desde 2008, a defesa cibernética é área estratégica. Em 2010, um núcleo começou a funcionar no Exército, dando origem ao Centro de Defesa Cibernética, criado em 2012. Outras áreas do governo têm outras preocupações. Por exemplo, com a criptografia, que é de responsabilidade da Abin.
A defesa cibernética então não busca defender diretamente a sociedade;
Indiretamente sim, porque se os militares não estiverem preparados, não poderão defender a sociedade. O Centro já foi empregado, de forma pontual, na proteção a grandes eventos, como a Conferência Rio%2b20, a visita do papa, a Copa das Confederações. Tratava-se ali da defesa contra hackers ou crackers, ou eventualmente um país que desejassem atacar. Nessas ações pontuais, o Centro de Defesa Cibernética foi um pouco além da defesa militar, coordenando a ação de um conjunto de órgãos. Ele precisa evoluir, criar capacidades, talvez uma escola de defesa cibernética. Por que digo que é importante formar capacidades? Hoje, a tendência é comprar softwares importados, mas eles não vão garantir nossa defesa. Precisamos desenvolver tecnologia brasileira. Isso leva tempo, demanda investimentos, formação de pessoal e mudança de cultura. As pessoas acham mais fácil trabalhar com o que já existe, já conhecem. Mas, quando se trata da defesa e das redes do governo, só a tecnologia nacional pode garantir segurança máxima. Veja o caso da criptografia. Ela depende de um componente, o gerador de chaves, que é importado. E ele pode ser sabotado.
Foi uma surpresa a descoberta de que a agência americana atuou no Brasil da forma descrita?
O senhor caracteriza a espionagem como um ataque?
Precisamos tomar cuidado com as palavras, mas óbvio que isso é intrusão. Uma intrusão em nossa soberania. Em geral, você reserva a palavra ataque...
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