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Politica

Comissão da Verdade: delegado acusado de tortura nega acusação

Para a aposentada Darci Miyaki, ex-presa política, que relatou ter sido torturada por ele, não há dúvidas da verdadeira identidade do capitão



Antes do depoimento do acusado, sete ex-presos políticos falaram na audiência sobre os momentos em que estiveram de frente com o delegado. Durante o testemunho, Darci Miyaki questionou a versão da morte de seu companheiro de militância Élcio Pereira. ;A morte dele foi anunciada em um tiroteio no dia 28 de janeiro de 1972, mas, nesse dia, ele estava sendo trazido do Rio [de Janeiro] para São Paulo comigo;, relatou. Ela disse que foi torturada diversas vezes pela equipe do capitão Ubirajara. ;Foram choques elétricos no ouvido, nos dedos dos pés, das mãos, choque na vagina. Era algo muito violento;, descreveu.

A aposentada Maria Amélia de Almeida Teles, detida pela ditadura em dezembro de 1972, também esteve na audiência e disse ter sido torturada pessoalmente pelo delegado. Amélia foi presa junto com o marido e Carlos Nicolau Danielli, companheiro de militância. Ela contou que os filhos do casal, à época com 4 e 5 anos, também foram levados ao DOI-Codi e presenciaram a mãe já machucada pelos métodos violentos aplicados no interrogatório. ;Eles queriam saber porque eu estava azul. Quando olhei para o meu corpo, vi que estava toda roxa;, relatou.

[SAIBAMAIS]Em um dos momentos em que ela esteve com Aparecido Calandra, o delegado lhe mostrou um recorte de jornal com a manchete de que um terrorista havia sido morto em tiroteio. ;Era uma versão mentirosa. Danielli foi morto naquela sala;, declarou. Amélia contou que foi ameaçada de que o mesmo poderia ocorrer com ela, pois eles dariam as versões que quisessem para as mortes. ;Ele ficou ali se gabando de ser autor daquela farsa. Ameaçando que eu poderia ter manchete como essa;, apontou ela. A morte de Danielli é uma das acusações que pesam sobre o capitão.

Além de Darci e Amélia, também prestaram depoimentos, os ex-presos políticos Gilberto Natalini (atualmente vereador de São Paulo), o jornalista Sérgio Gomes, o deputado federal Nilmário Miranda, o deputado estadual Adriano Diogo e o físico Arthur Scavone. Eles detalharam as situações em que estiveram com o capitão Ubirajara no período da prisão.

O advogado José Carlos Dias, membro da Comissão da Verdade, considerou o depoimento uma ;desfaçatez;. ;Os vizinhos ouviam os gritos e ele, que trabalhava lá, não ouvia um grito? É uma desfaçatez. Mas nós cumprimos o nosso dever de perguntar;, avaliou. Pedro Dallari fez avaliação parecida ao dizer que o depoimento foi pouco ;crível;. ;É ruim por um lado, mas as provas que a comissão possui contra ele são muito robustas;, disse. ;Os fatos indicam claramente que o delegado praticou tortura;, completou.

Ele informou ainda que a comissão já recolheu grande número de depoimentos que farão parte do relatório final. ;Todos os depoimentos que considerarmos importantes para a elucidação dos fatos, nós colheremos, mas temos um problema de tempo;, reforçou. Pedro Dallari espera que haja prorrogação, até o final do ano, do prazo para conclusão dos trabalhos, que se encerrariam em maio.