postado em 25/02/2014 13:56
Ao chegar, nesta terça-feira (25), para sessão solene destinada a comemorar os 20 anos de lançamento do Plano Real, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou que o programa de estabilização econômica, lançado para controlar a hiperinflação que assolava o país, só deu certo em razão da adesão da população. Em julho de 1994, ele era ministro da Fazenda, tendo sido responsável por comandar a equipe de economistas que elaborou o programa.A véspera do lançamento do plano, segundo FHC, foi um dia muito tenso. ;Havia muita incompreensão. As pessoas tinham receio que a URV fosse prejudicar os trabalhadores. Havia muita resistência de ministros, mas o presidente Itamar [Franco] foi firme. Em pouco tempo, a população entendeu e aderiu. Isso que é importante. Está na hora de tomar outras decisões, não vou dizer o que é, mas o povo sente que está na hora de apontar um novo rumo;, disse o ex-presidente.
Questionado sobre um possível descontrole da inflação hoje, o ex-presidente ponderou que o índice de 5,91% registrado no ano passado não pode ser considerado elevado, em comparação com a situação que encontrou quando assumiu o Ministério da Fazenda durante o governo Itamar Franco. Mas Fernando Henrique observou que o governo deve estar sempre atento às mudanças no cenário econômico. ;Não posso ser injusto e dizer que o governo não controla a inflação. Isso não quer dizer que não tenhamos que continuar controlando. Eu me preocupo sim com a questão de cumprir o programa de metas da inflação e com a responsabilidade fiscal;, avaliou.
Antes de seguir para o Plenário do Senado, o ex-presidente foi recebido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros; pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos autores do requerimento da sessão solene; e diversos outros parlamentares.
Entenda
Lançado em fevereiro de 1994, durante o governo Itamar Franco, o plano ficou conhecido pelo combate à inflação, que atingiu 2.490,99% naquele ano. Adotando medidas como o controle dos gastos públicos, a desindexação da economia e o aumento das taxas de juros, o Plano Real derrubou a inflação para 8,64%, em 1999, em menos de seis anos de funcionamento. A solenidade em comemoração aos 20 anos do Plano Real foi proposta pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) e foi realizada no Plenário do Senado Federal.
Fim da superinflação
Oficialmente, o marco inicial foi a Medida Provisória 434/94 (convertida na Lei 8.880/94), que criou a Unidade Real de Valor (URV), para funcionar como novo indexador e servir de base para todas as transações econômicas, permitindo a estabilização dos preços.O conjunto de ações, que culminou com o lançamento de uma nova moeda, o Real, em julho de 1994, foi idealizado e executado por FHC, à época ministro da Fazenda, com contribuições de economistas como Pedro Malan, Gustavo Franco, Pérsio Arida, Clóvis Carvalho e André Lara Rezende. ;Quando muitos duvidavam se seríamos capazes de colocar nossa própria casa em ordem, nós começamos a arrumá-la nesses dois anos. Sem ceder um milímetro na nossa liberdade, sem quebrar contratos nem lesar direitos, acabamos com a superinflação;, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu discurso de posse, em janeiro de 1995.
Estabilização
Além da política de desindexação, o processo de estabilização da economia envolveu ainda diversas privatizações em vários setores, venda de bancos estaduais e políticas monetárias mais restritivas (aumento de juros). A primeira fase do Plano Real se concentrou na redução de gastos públicos e no aumento de impostos, como forma de controlar as contas do governo. Em seguida vieram a criação da URV como forma de desindexar a economia, até então indexada pelos índices de inflação e, quatro meses depois, a criação do Real como nova moeda.
Outras fases do plano envolveram redução dos impostos de importação para aumentar a concorrência com os produtos nacionais, provocando a redução dos preços, e o controle cambial, mantendo o Real valorizado diante ao Dólar. Esta medida visava estimular a importação e aumentar a concorrência interna, controlando o aumento dos preços dos produtos nacionais.