postado em 07/04/2014 06:15
Pouco sobrou do homem de hábitos caros, respeitado profissional da área de orçamento do Senado. Na cela que divide com outros detentos no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, desde o último dia 13, José Carlos Alves dos Santos, de 72 anos, não tem nenhuma notoriedade. É só mais um. Mas, do esquema de desvio de dinheiro conhecido como escândalo dos Anões do Orçamento (referência à baixa estatura dos parlamentares envolvidos, todos membros da Comissão Mista de Orçamento), foi o único protagonista a parar atrás das grades. Hoje, se o fantasma da prisão que o rondava havia décadas chegou ao fim, um mieloma múltiplo, tipo de câncer na medula que ainda não se manifestou, é o novo temor de Santos.
A falta de sensibilidade nas mãos, devido à incapacidade do organismo de metabolizar a vitamina B-12, é o sinal mais evidente do estado de saúde do ex-consultor do Senado, condenado por corrupção passiva e preso 21 anos depois de delatar o esquema que funcionou no Legislativo federal. Nem ele próprio, que ajudou a cassar seis parlamentares, nem os parentes mais próximos, que só falam sob a condição de anonimato, questionam a condenação. O sentimento de injustiça tem a ver com o tamanho da pena ; 10 anos e 1 mês em regime fechado ; e com o fato de os poderosos, quatro congressistas envolvidos no escândalo, terem se safado, especialmente via renúncia de mandato.
Desde que teve o rosto estampado em jornais e revistas de todo o país por dois escândalos ; condenação pela morte da primeira mulher, Ana Elizabeth Lofrano, crime do qual ele sempre alegou ser inocente e que o levou a ficar quase seis anos preso, e o esquema de corrupção envolvendo políticos, empreiteiras e laranjas que movimentou mais de R$ 100 milhões em emendas ao Orçamento da União entre a década de 1980 e o início dos anos 1990 ;, José Carlos optou pela discrição. ;Ele é uma pessoa pacata, cordata, introspectiva. Acho que 80% da igreja nem sabem que ele está preso nem o identificam como uma pessoa associada ao fato que ocorreu há tanto tempo no Senado. Hoje, ele é um ancião, com a saúde frágil;, descreve o pastor Hércio Fonseca, presidente da igreja evangélica que o condenado frequentava havia pelo menos oito anos, no Lago Norte, até ser preso.
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