Jornal Correio Braziliense

Politica

Mais imagens devem ajudar a identificar responsáveis por vale-claque

Gravações do circuito interno da Câmara serão utilizadas para identificar os responsáveis por distribuir dinheiro a manifestantes que aplaudiram votação

As imagens do circuito interno de segurança da Câmara e as gravações feitas pela reportagem do Correio serão as principais ferramentas para a apuração do pagamento de supostos manifestantes que aplaudiram, na noite de terça-feira da semana passada, na galeria do plenário, a votação de um projeto de lei que amplia a jornada de trabalho dos caminhoneiros. A Corregedoria Parlamentar da Casa aguarda a chegada de representação para pedir as gravações, para ajudar na identificação dos responsáveis.



[SAIBAMAIS]Também hoje, a bancada do PSol na Câmara deve se reunir para discutir o tema e ingressar com uma representação similar. ;As galerias, repletas de ;defensores; desse projeto que possibilita a jornada diária de 12 horas para motoristas de caminhões e ônibus, e que vaiaram bastante a mim e a Ivan Valente (PSol-SP) por criticarmos a proposta, receberam grana para acompanhar a votação. Logo mais, postaremos aqui as cenas deprimentes de anticidadania;, registrou o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), em sua página em uma rede social.

A abertura de investigação sobre o caso é dada como certa por fontes da direção da Câmara. Na semana passada, o titular da Corregedoria, deputado Átila Lins (PSD-AM), e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), manifestaram interesse em dar prosseguimento às apurações. O secretário-geral da Mesa, Mozart Vianna, disse que o pagamento de claques não é situação cotidiana no Congresso. ;Não é um fato comum. Tanto não é que vamos dar seguimento à apuração para determinar o que de fato ocorreu;, afirmou.

Memória

O mercado do protesto

No Congresso Nacional, em comícios políticos, na inauguração de obras, eles quase sempre estão lá. Aliciados para aplaudir ou vaiar, grupos de falsos militantes entram em cena gritando em nome de interesses alheios sobre os quais sabem pouco ou nada. As galerias da Câmara dos Deputados, de onde o povo pode acompanhar as votações e pressionar os parlamentares, tornaram-se lugar cativo desses manifestantes de aluguel, como mostrou o Correio na terça-feira da semana passada. Vídeos e fotos flagraram a claque, que se passou por caminhoneiros em apoio a um projeto de lei sobre a categoria, recebendo notas de R$ 20 e de R$ 50 no 10; andar da Casa, depois que a matéria foi aprovada.

Em outra reportagem, publicada em 19 de agosto, o Correio mostrou que as galerias da Câmara dos Deputados, onde cabem cerca de 400 pessoas, recebem gente que mal sabe o motivo de estar ali. Na ocasião, agentes comunitários de 20 estados ocupavam o espaço para reivindicar a votação do piso nacional para a categoria. A viagem de ônibus, bancada pelas prefeituras, não vingou. Só em Brasília, eles souberam que a pauta estava trancada. Hospedagem e alimentação também ficaram por conta de terceiros. Os profissionais da saúde dividiam espaço com alunos de uma academia de arte marcial. Muitos confessaram à reportagem que foram à Câmara por solicitação do mestre para ;pedir para melhorar o país;. Poucos souberam explicar que apoiavam a proposta de canalizar os royalties do petróleo para a educação.

Em setembro de 2012, o Correio também mostrou que o Sindicato dos Bancários pagava R$ 40 por dia para um exército de piqueteiros ; gente que não pertencia à categoria, mas se fazia passar por funcionários de bancos para dar visibilidade ao movimento e, ao mesmo tempo, pressionar os patrões. O aliciamento incluía, além da quantia em dinheiro, alimentação. Aos contratados, cabia fazer muito barulho em frente às agências bancárias e impedir que funcionários entrassem para iniciar o expediente. No fim do dia, o pagamento era feito em espécie, nas redondezas dos pontos de piquete. O Sindicato dos Bancários considerou, à época, que terceirizar as manifestações fazia parte do jogo. Mas alegou que os contratados não faziam piquete, ao contrário do flagrante feito pela reportagem.

Com Renata Mariz.