Jornal Correio Braziliense

Politica

Desinteresse de brasileiros pela Copa surpreende especialistas

Entre as cidades, Belo Horizonte, Vitória e o interior de São Paulo reúnem a maior parte dos insatisfeitos



Especialistas ouvidos pelo Correio relacionam a rejeição ao Mundial à decepção com promessas descumpridas por políticos anos antes da Copa. ;Quando se coloca um estádio de futebol enorme numa cidade onde o sistema de saúde não consegue atender a população e você não tem médico nos hospitais, nasce uma indignação e um sentimento de revolta na população;, analisou o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli. ;O pessoal está sendo tratado como gado, mas está mostrando que não é bem assim, que não vai aceitar isso;, disse o especialista.

;Há sete anos, quando o Lula (ex-presidente) trouxe a Copa para o Brasil, queria transformar o evento num cartão de visita do país para o mundo. Mas quem pagaria por isso? Os custos estão sendo altos e quem paga é o povo;, frisou o sociólogo Marcelo Barra, da Universidade de Brasília. Outra pesquisa também divulgada neste mês demostra que o pessimismo dos brasileiros com o Mundial está ligado à ausência do tão prometido legado. Dados do Instituto QualiBest, coletados entre 17 e 24 de abril, revelam que 67% dos entrevistados concordam que, em vez de deixar um ;legado;, a Copa deixará um ;ônus;.

Segundo o cientista político Leonardo Barreto, a competição aqui está muito mais politizada do que na África do Sul, em 2010, ou na Alemanha, em 2006. ;Não me lembro de presenciar problemas tão profundos em outros locais. E essa politização não é partidária, é espontânea, não é claramente organizada por organizações sociais de candidatos. São manifestações associadas à insatisfação com o dito legado mais prometido que entregue. E por mais que tenham sido entregues obras, há o questionamento se seriam prioritárias.;

Redes sociais
Ferramentas importantes na mobilização de manifestantes para as ruas, as redes sociais ajudaram a fortalecer os movimentos contrários ao Mundial. Num simples clique, pessoas com ideologias afins se encontram e combinam protestos. As manifestações de junho do ano passado ganharam força após a maciça divulgação nos sites de relacionamento. ;É uma ferramenta que acaba convocando adeptos, agrupando para uma participação social nas ruas. Costumo dizer que a internet serve para encontrar as pessoas que estão pensando como você. A televisão vende, mas a internet você compra. Você entra para procurar o que você quer, uma ferramenta de busca;, explicou.

Nessa unificação, uma onda contrária se unificou na hashtag #nãovaitercopa. Só ontem, o comando recebeu 1,5 mil citações: 478 tuítes originados, 883 retuítes e 139 mensagens postadas. No auge das postagens, por volta da meia-noite a citação contra a Copa apareceu 206 vezes. O número é maior que a campanha #vaitercopa, criada por otimistas para reforçar que a realização do evento mesmo com pouca torcida. Às 7h de ontem, pico das mensagens, foram registradas 192 postagens positivas naquela hora.

Paralelamente à discussão se vai ou não ter o Mundial, críticas às declarações do ex-jogador Ronaldo Fenômeno ; que se considerou envergonhado com os atrasos nas obras da Copa ; superaram as postagens. Das 7h às 9h de ontem, foram disparados 1,2 mil posts #tenhovergonhadoronaldo. Em uma só hora, foram registradas 398 mensagens no Twitter.