O candidato do PRTB à Presidência, Levy Fidelix, promete, em seu programa, que todo brasileiro que nascer durante o governo dele ganhará uma poupança de R$ 2.040, que poderá resgatar quando completar 21 anos. Fidelix propõe ainda uma ;marcha ao Centro-Oeste;, com a construção de dezenas de cidades planejadas. Outra iniciativa é transformar o Bolsa Família em Salário Família, passando o benefício para o valor fixo de R$ 510. No campo da segurança pública, ele quer privatizar todas as penitenciárias.
Em outra frente, a ideia é revolucionar a gestão de alguns órgãos públicos. ;O governo do PRTB colocará um industrial no Banco Central e um banqueiro no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para que conheçam melhor as agruras de como é difícil produzir com toda a sorte de risco e alta tributação e ainda gerar emprego e renda;, prega o programa do candidato.
Ainda no campo ministerial, o PV, do candidato a presidente Eduardo Jorge, prevê um governo de apenas 14 ministérios, incluindo as pastas da Amazônia, do Nordeste e da Autodefesa. O presidenciável Eymael (PSDC) também preconiza uma redução ;drástica; do número de ministérios, mas pretende criar as pastas da Família e da Segurança Pública.
Estatização
Não são apenas alguns dos participantes da corrida ao Planalto que têm propostas inusitadas. A situação se repete nas unidades da Federação. Em Minas Gerais, por exemplo, o programa da candidata ao governo Cleide Donária (PCO) propõe a dissolução da Polícia Militar e um salário mínimo de R$ 3,5 mil, entre outras ideias pouco usuais. ;O PCO não tem dois programas, como os partidos burgueses ou de colaboração de classes: um para fazer demagogia com as massas e outro ;real;, para as eleições;, diz Cleide, que ainda propõe estatizar as escolas particulares e expropriar os grandes laboratórios farmacêuticos.
Já a aliança entre o PSol e o PSTU para o governo de Minas, encabeçada pelo candidato Fidélis, apresentou um programa de 17 páginas, com propostas que também fogem do lugar comum. Entre elas, está o calote da dívida do governo estadual com a União (atualmente em R$ 83 bilhões). ;Suspensão do pagamento e auditoria da dívida pública já. Averiguação das irregularidades, com a utilização dos recursos que são drenados para o pagamento de juros a custo exorbitante, para financiar economia popular ecossocialista e política de garantia de direitos;, preconiza o programa do PSol-PSTU. A elaboração do documento teve a participação do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que não tem registro no TSE, e das Brigadas Populares, grupo marxista com trabalho nas ocupações urbanas.
O que eles prometem
Confira algumas propostas controversas de candidatos
Eymael (PSDC), presidenciável
; Redução drástica do número de ministérios hoje existentes, mas incluindo, entre as pastas remanescentes, o Ministério da Família e o Ministério da Segurança Pública
Levy Fidelix (PRTB), presidenciável
; Nomear um industrial para o Banco Central e um banqueiro para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
; Transformar o Bolsa Família em salário família, reajustando o valor do benefício para R$ 510
; Dar uma poupança de quatro salários mínimos (R$ 2.040) para cada recém-nascido. O valor poderá ser resgatado quando o beneficiado completar 21 anos
; Privatização das penitenciárias
Cleide Donária (PCO), candidata ao governo de Minas Gerais
; Acabar com o comércio da saúde, por meio da expropriação dos grandes laboratório farmacêuticos
; Salário mínimo de R$ 3,5 mil
; Redução da semana de trabalho para 35 horas em todos os ramos da produção, sem redução dos salários, com dia de trabalho máximo de sete horas
; Dissolução da PM
"Formas menos convencionais"
Os partidos menores têm que encontrar formas menos convencionais de chamar a atenção dos eleitores. Ou essas legendas são ideológicas ou se valem de propostas para cativar o eleitorado. Vale lembrar que, no Brasil, a direita não tem agremiações que assumem uma postura ideológica. A situação é diferente com a esquerda, que, desde o Partido Comunista, em 1922, definiu um comportamento claro. Quando as legendas não são ideológicas, a única maneira de aparecerem no meio de tantos candidatos é com propostas estapafúrdias, que podem ajudar a eleger parlamentares. Pois, para ter longevidade, a sigla precisa eleger parlamentares ou fazer acordos com as candidaturas majoritárias para conseguirem cargos comissionados. Os grandes partidos, principalmente PT e PSDB, que polarizam a disputa nacional, por sua vez, não arriscam demais, pois qualquer erro significa perder para o oponente direito. Os programas de governo passaram a ser elaborados por marqueteiros, que pensam mais na embalagem do que no conteúdo. O trabalho do marqueteiro reduz o conteúdo e, com isso, os grandes partidos apresentam um programa de governo pró-forma apenas.
; Rudá Ricci, cientista político