Daniela Garcia
postado em 24/07/2014 06:01
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o ex-delegado do Departamento da Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra afirmou, ontem, que um coronel do Exército teve participação na morte da estilista Zuzu Angel, vítima de um suposto acidente de carro em abril de 1976, no Rio de Janeiro. A declaração de Guerra é mais um indício de que a mãe do militante Stuart Angel ; tido como morto e desaparecido político ; foi alvo de um atentado planejado por agentes da ditadura militar (1964-1985), afirmou ontem o presidente da comissão, Pedro Dallari.
Estilista reconhecida mundialmente, Zuzu mobilizou a opinião pública nacional e estrangeira em busca do filho. A repercussão do caso prejudicou a imagem do regime militar no exterior. Segundo Guerra, o coronel Freddie Perdigão, morto em 1997, conhecido por coordenar o atentado no Riocentro em 1981, também esteve no comando do crime contra Zuzu. O ex-delegado lembrou-se de uma conversa com o oficial, em que Perdigão dizia estar preocupado, porque havia sido fotografado perto da cena do crime. ;Ele (Perdigão) narrava para mim que tinha planejado, obedecendo a ordens, a simulação do acidente dela, e que estava muito preocupado, porque havia sido fotografado. Ele achava que era a perícia que o tinha fotografado sem querer;, disse Cláudio Guerra, no depoimento. Em seguida, o ex-delegado mostrou à comissão uma foto em que aparecia supostamente Perdigão no local. A imagem não pôde ser avaliada no momento por causa da baixa resolução. A veracidade da foto será verificada por membros da CNV.
Guerra foi condenado e cumpriu pena por três tentativas de homicídio, resultantes de um atentado a bomba do qual participou nos anos 1980, no Espírito Santo. Na cadeia, ele se converteu ao cristianismo e se tornou pastor da Assembleia de Deus. Hoje, afirma querer fazer sua parte ;para que uma página triste de nossa história seja passada a limpo;.
No depoimento, Guerra afirmou que incinerou os corpos de 12 militantes políticos e que assassinou e fez o mesmo procedimento com os restos mortais de um tenente de nome Odilon, numa ;queima de arquivo determinada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI);. O ex-delegado contou também que executou, a pedido do órgão, três militantes em São Paulo, um no Recife e ;dois ou três; no Rio. ;Se cumprisse pena por tudo o que fiz, nunca sairia da cadeia;, afirmou.
O ex-delegado havia prestado três depoimentos reservados à CNV, mas ontem foi interrogado sobre questões específicas relativas aos casos em que esteve envolvido diretamente ou dos quais teve conhecimento. Ele indicou nomes de outras pessoas e testemunhas que poderão ser ouvidas pela CNV em diferentes estados e que poderão ajudar a elucidar os casos investigados.
O relatório final com os resultados dos trabalhos da CNV deve ser entregue em 10 de dezembro à presidente Dilma Rousseff. O prazo para o colegiado concluir as atividades é 16 de dezembro.