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Desaparecimento de Amarildo é semelhante ao caso Rubens Paiva, diz CNV

Coordenador da comissão, Pedro Dallari afirma que sistema de tortura do regime militar continua ser aplicado pelas polícias no Brasil

Ao fazer um balanço dos depoimentos de agentes da repressão durante o regime militar à Comissão Nacional da Verdade (CNV) nas duas últimas semanas, o coordenador do órgão, Pedro Dallari afirmou, nesta sexta-feira (1;), que o sistema de tortura da ditadura militar continua a ser utilizado pela segurança pública do Brasil. O coordenador também afirmou que o caso do pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, no Rio, detido na comunidade por policiais militares em 14 de julho de 2013, levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), torturado e morto, cujo corpo nunca foi encontrado, remete ao caso Rubens Paiva, dado como desaparecido durante o regime militar.

Ativista político com atuação no Rio de Janeiro, Rubens Paiva teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após depoimentos de ex-militares envolvidos no caso. Ele foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. "O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva", comparou Dallari. Na avaliação do coordenador, casos de desaparecimentos de pessoas em poder da polícia continuam a acontecer porque a tortura ainda é vista como algo comum e corriqueiro. ;No país ainda se usa mecanismos criados desde a época de Getúlio Vargas. Temos que desmontar esses aparelhos de terror", disse, referindo-se à tortura e coerção de presos, endossou a ex-coordenadora da CNV Rosa Cardoso.



Nas duas últimas semanas, 38 pessoas foram convocadas e 23 delas compareceram para prestar depoimentos à comissão, em Brasília e no Rio de Janeiro. A Comissão Nacional da Verdade, instituída para colher depoimentos e levantar fatos históricos do Brasil durante a ditadura (1964-1985), está em fase de conclusão dos trabalhos e entregará seu relatório à presidência da República e demais órgãos de governo em 10 de dezembro, quando se comemora o Dia Mundial dos Direitos Humanos.