postado em 12/08/2014 16:52
Nenhum dos quatro militares convocados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) compareceram à audiência pública convocada hoje em Brasília para tratar do período da Guerrilha do Araguaia (1967-1974). Entre os militares convocados estava Sebastião Rodrigues de Moura, mais conhecido ;Major Curió;. Considerado um dos mais importantes informantes sobre o período, Curió foi um dos responsáveis pela organização das operações de inteligência que contribuíram para o fim do foco guerrilheiro. Segundo a CNV, Curió foi internado ontem à noite no Hospital das Forças Armadas (HFA), no Cruzeiro, e pode ser ouvido ainda hoje pela Comissão. O presidente da CNV, advogado Pedro Dallari, lamentou a ausência. ;É muito ruim, porque o depoimento dos próprios militares do soobre o Araguaia serão importantes para o esclarecimento dos fatos e inclusive para eles apresentarem a versão deles.;Dallari reafirmou a disposição da CNV em ouvir os militares e disse que o próprio Curió já havia dito que deseja depor. ;Nós vamos ouví-lo, ele já manifestou publicamente o desejo de depor para a CNV, e nós oferecemos inclusive a possibilidade de ir até o hospital para colher o depoimento dele. Não vejo o porquê dele se negar a contribuir com o esclarecimento desse episódio, que foi muito importante para a história do Brasil. No Araguaia houve um enfrentamento militar e, contrariando inclusive as leis da guerra, foram executadas pessoas que já estavam presas, imobilizadas;, completou.
Os outros militares convocados eram Frederico Cinelli, Thaumaturgo Sotero Vaz e José Conegundes do Nascimento. Cinelli, que vive entre o Rio de Janeiro e Brasília, não pôde ser localizado pela PF para ser intimado; Conegundes foi intimado e mesmo assim não compareceu e nem se justificou. Já o general Thaumaturgo Sotero Vaz alegou que ;não teria como custear a viagem; de Manaus, onde reside, a Brasilía. Durante a tarde, a audiência ouvirá depoimentos de uma parente de um militante desaparecido e de uma advogada que estuda o tema.
Na manhã de hoje, a CNV colheu o depoimento de dois ex-guerrilheiros que sobreviveram ao Araguaia. Criméia Schmidt de Almeida deixou o foco guerrilheiro no sul da amazônia em 1972, para dar a luz a um filho em São Paulo, onde foi capturada. ;Depois de presa eu fui levada para a base da Operação Bandeirantes (Oban). Fui presa com meu marido, um dirigente da nossa organização e meus dois sobrinhos. Eu disse para eles que meu nome era Alice Pereira, e fingi ser babá, empregada desses meus dois sobrinhos. Eles ficavam me perguntando pela Criméia. Quando eles descobriram minha verdadeira identidade, a tortura começou;, contou ela. A militante, então com 26 anos de idade, deu à luz no Pelotão de Investigações Criminais (PIC), em Brasília. Criméia contou ter sido torturada pessoalmente pelo comandante Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi em SP.
A comissão também ouviu o depoimento de Danilo Carneiro. Capturado no sul do Pará, Carneiro sofreu ferimentos pesados durante o período de tortura, e chorou muito durante o depoimento. ;Eles paravam de te torturar durante alguns momentos. Te ofereciam um café, uma água, dialogavam com você. E depois voltavam com o choque elétrico com a pancada. Aquilo era para quebrar o militante. Você nunca sabia quando ia ter tortura ou não;, contou ele. Carneiro contou ter feito mais de trinta cirurgias para se recuperar dos danos impostos pela tortura.