Há quase 20 anos, o presidenciável Eduardo Campos (PSB), morto na última quarta-feira, assumia seu primeiro cargo público em Brasília, quando foi eleito deputado federal. Ex-colegas e assessores do político pernambucano contam que a rotina de Campos em Brasília era dominada por agenda extensa de compromissos de trabalho, com poucas pausas para apreciar a cidade.
Mas os raros momentos de distração do socialista no Planalto Central ocorriam durante as refeições, nas quais geralmente era acompanhado por correligionários, amigos e assessores. Quando possível, Campos também usava as áreas públicas da cidade para cultivar o antigo hábito de correr ao ar livre. Em outubro passado, por exemplo, foi visto correndo no Parque da Cidade com o candidato ao governo do Distrito Federal pelo PSB, Rodrigo Rollemberg.
[SAIBAMAIS]O único endereço de Campos em Brasília foi a antiga Academia de Tênis, no Setor de Clubes Norte, onde residiu durante um breve período após ser eleito deputado federal, em 1995. Depois disso, a vida do chefe do PSB se dividia entre os hotéis e a casa no bairro de Dois Irmãos, onde a família residia, em Recife. ;A rotina de trabalho dele realmente começava muito cedo, e ia até tarde;, descreveu o atual secretário executivo do Ministério dos Esportes, Luís Fernandes.
Para o também cientista político, o presidenciável combinava um perfil de líder e articulador político com o de um gestor muito focado, ;que prestava muita atenção a detalhes e que gostava de acompanhar o desenrolar das situações muito de perto;. Fernandes foi secretário executivo do então Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) durante a gestão de Campos, de 2004 a 2005.
;Quando entrou no governo, houve até quem se preocupasse pelo fato de ele ser um político, e não alguém ligado à área científica. Mas ele foi relativamente rápido em se apropriar das discussões nas mais variadas áreas do ministério;, continuou Fernandes. Ele conheceu Campos quando prestou consultoria à liderança do governo na Câmara, em 2003 e 2004, durante as discussões da Lei de Biossegurança.
O deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) recorda que Campos não gostava de fazer refeições sozinho. ;Em Brasília, o tempo dele era muito curto. Era sempre uma correria do hotel para o trabalho, e do trabalho para o aeroporto. Mesmo o almoço e o jantar costumavam ser rápidos. Ele tinha essa coisa de sempre chamar os correligionários e os amigos para comer com ele;, contou.
Patriota destacou ainda o bom desempenho do ex-comandante do partido na Câmara, papel desempenhado em três ocasiões. ;Ele se tornou líder logo que chegou a Brasília, em função do bom tratamento que dava aos deputados;, contou.
A corrida, descreve Patriota, era um hábito antigo do candidato, e os percursos costumavam ser extensos. ;Em Recife, o trajeto dele era de Dois Irmãos ao Palácio do Campo das Princesas (cerca de 12 quilômetros). Ele levava mais ou menos uma hora e meia, com ritmo bem puxado;, lembrou.
À mesa
Entre os restaurantes favoritos de Campos em Brasília, estavam o Dom Francisco, na Associação de Servidores do Banco Central (Asbac), às margens do Lago Paranoá, e a cantina Unanimità, na Asa Sul. O ex-governador era conhecido por garçons, gerentes e donos dos dois estabelecimentos. Segundo funcionários, ele almoçou no Dom Francisco há menos de duas semanas, numa de suas últimas vindas à capital do país (leia abaixo).
Campos esteve no Unanimità há cerca de três meses, acompanhado da mulher e de dois dos cinco filhos. O chefe de cozinha Glécio Rodrigues de Almeida, 42 anos, revelou que o presidenciável era presença frequente na cantina. E o prato preferido era a carne de cordeiro acompanhada de batata, arroz branco e brócolis. Políticos e colegas de trabalho também eram companhias frequentes no local. ;Ele era muito atencioso e sempre falava de Pernambuco com orgulho e carinho. Conversava com todos, era uma pessoa muito simples;, comentou.
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