postado em 17/08/2014 08:04
Recife ; Um senhor de cabelos brancos com uma flor amarela nas mãos andou lentamente até a frente do Palácio do Campo das Princesas, apertou os olhos e fez o sinal da cruz. Antes de ir embora, deixou discretamente uma placa no chão em que se lia: ;Eduardo, imortal, imortal;. Uma reinvenção do hino de Pernambuco. Um vaqueiro do município de Granito, onde apenas 34 eleitores não votaram em Eduardo na última eleição, espalmou as mãos para o céu, em reverência ao ;neto do véi arraia;. O estudante negro de uma escola pública pernambucana, vestido de orgulho, pendurou a farda do colégio na grade do palácio. Pouco depois, a dona de casa Eliete Adermas, 76 anos, falou sozinha olhando para a sacada de onde viu Eduardo Campos acenar quando assumiu pela primeira vez o governo pernambucano, em 2007. ;Apareça, meu presidente. Apareça. Vou esperar aqui os seus olhos azuis.;Repetiu a frase cinco vezes e, sem querer, resumiu o sentimento de um estado inteiro. O ;não pode ser verdade; está silenciosamente no inconsciente de cada pernambucano. E é assim, sem acreditar , que Pernambuco sepulta hoje à tarde o homem público que parecia indestrutível pelo vigor físico, político e intelectual. Virou mito no carbureto, aos 49 anos, ao ter a trajetória interrompida de maneira estúpida.
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Hoje, quando Eduardo for enterrado, às 17h, no Cemitério de Santo Amaro, ao lado do túmulo do avô Miguel Arraes de Alencar, desenterra-se, para todo mundo ver, a carência de jovens líderes políticos do Brasil. Contraditoriamente, o homem que encarnava o discurso do coletivo como única alternativa para a construção de políticas públicas expôs, com sua morte, o centralismo cultivado ao longo dos anos. Sai de cena e o sentimento de orfandade inunda todas as instâncias do PSB. É como se não houvesse outra opção. Atordoados, os seguidores do pessebista não sabem mais como caminhar. Sentem falta do Eduardo que levantava a mão para apontar a direção. Por isso, eles também morreram um pouco.