A estreia da propaganda eleitoral gratuita na tevê e no rádio nesta eleição explorou um ingrediente diferente de anos anteriores: a amizade dos presidenciáveis com Eduardo Campos (PSB), que morreu na queda de uma aeronave em Santos (SP) na semana passada. Mais humanizada devido à perda do ex-governador de Pernambuco, a primeira peça exibida em cadeia nacional mostrou a relação dos candidatos com Eduardo. Os principais concorrentes ao Palácio do Planalto: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) ; cuja candidatura ainda precisa ser confirmada ; abriram mão de parte do programa para homenagear o socialista e as outras seis vítimas do acidente. Primeiro partido a veicular a peça eleitoral, o PSB se limitou a defender o legado de Eduardo nos dois minutos e três segundos de vídeo. A legenda entendeu que não era hora de falar em projetos nem pedir a confiança do eleitor. Como o momento é de indefinição, o nome de Marina Silva nem sequer foi mencionado no programa, embora ela tenha aparecido em imagens.
O presidenciável Aécio Neves lamentou o fato de a campanha começar marcada ;por um sentimento de enorme tristeza;. O mineiro lembrou que conheceu Eduardo há mais de 20 anos e assumiu o compromisso de ;colocar em prática as ideias e os ideais que tinham em comum;. O tucano aproveitou o programa eleitoral para alfinetar a gestão petista no governo federal ao afirmar que o país ;piorou; nos últimos quatro anos, mas não subiu o tom das críticas. Candidata à reeleição, Dilma Rousseff abriu o programa apresentando-se como uma mulher de hábitos cotidianos. As imagens trouxeram Dilma cozinhando, passeando com o cachorro, lendo livros e cuidando do jardim. Em seguida, ela pedia outro mandato para conseguir ;colher os frutos que plantou; nos quatro anos no poder. No fim, o x-presidente Luiz Inácio Lula da Silva despediu-se de Eduardo Campos, a quem disse considerar como ;filho;. O Correio assistiu, ao lado de eleitores dos três presidenciáveis, ao primeiro programa eleitoral na tevê desta eleição. Confira abaixo as impressões que eles tiveram dos respectivos candidatos.
Sob a influência de Eduardo
A pesquisadora e doutora em genética Muriel Saragoussi, 58 anos, não conseguiu disfarçar o choro ao assistir à homenagem do PSB a Eduardo Campos ontem, na estreia da propaganda eleitoral gratuita. Ao lado do amigo cientista político Marcos Woortmann, 33, Muriel acompanhou os dois minutos e três segundos da inserção partidária sem desviar o olhar da tevê. ;É uma bomba que caiu no colo de todos nós;, lamentou, com a voz embargada. Foi difícil tecer mais comentários após relembrar a perda do candidato em quem Muriel afirmou ter aprendido a gostar e a respeitar.
A primeira peça exibida pelo PSB foi toda dedicada ao candidato morto na semana passada, na queda de uma aeronave em Santos (SP). É a voz dele ; por meio de frases repetidas ao longo de um mês de campanha, que narra a edição. As mensagens foram escolhidas a dedo pelo diretor argentino Diego Brandy para dar o tom do ex-governador pernambucano à campanha na tevê. ;Não vamos desistir do Brasil, é aqui que vamos criar nossos filhos e uma sociedade mais justa;, frisou o pernambucano, em imagem gravada um dia antes da morte dele. A música Anunciação, do conterrâneo Alceu Valença, embalou a deferência na tevê.
Marina Silva (PSB) ficou em segundo plano na primeira inserção partidária. Antes da tragédia, a ideia era que ela apresentasse Eduardo Campos no programa eleitoral. Com o acidente que vitimou o presidenciável socialista e seis integrantes da equipe de campanha, a ex-ministra apareceu pouco, sendo abraçada por Eduardo. A falta de citação nominal a Marina na propaganda não irritou os eleitores que almoçaram juntos ontem para assistir à peça. ;É um programa conjunto (de governo) que deve ser tocado conjuntamente;, defendeu Woortmann. (NT)
Tom emotivo no programa tucano
Entre uma aula e outra, o estudante Renato Rabelo, 21 anos, fez uma pausa na rotina para assistir à estreia da propaganda eleitoral dos candidatos à Presidência da República em uma televisão instalada no Centro Acadêmico de Economia da Universidade de Brasília (UnB). Rabelo já escolheu em quem votar: na chapa encabeçada pelo mineiro Aécio Neves (PSDB).
O programa eleitoral exibido ontem o surpreendeu pelo tom emotivo. ;O PSDB é conhecido como um partido mais racional. Nessa propaganda, inverteu essa lógica ao colocar um pouco de emoção no programa e falar mais diretamente com o povo mais simples;, disse. ;Dado os últimos acontecimentos, com a morte de Eduardo Campos, acho que era necessário esse tom;, completou ; Aécio usou parte da primeira inserção para fazer uma homenagem ao presidenciável socialista. ;Colocar em prática os ideais que tínhamos em comum é a melhor forma de homenagear o grande brasileiro que foi Eduardo Campos;, declarou o tucano na tevê.
Rabelo também notou um aumento na qualidade técnica da peça, que teve pouco mais de 4 minutos de duração, em relação a campanhas anteriores da legenda. ;Nesse primeiro momento, eu esperava que fosse apresentada a biografia de Aécio, a trajetória como deputado federal, senador e governador de Minas. Mas me surpreendeu muito positivamente, principalmente em relação às campanhas do PSDB, em termos de qualidade do que eu vi;, comentou.
No programa exibido, Aécio ainda adotou um tom otimista ao falar sobre o futuro do país, com críticas pontuais aos 12 anos das gestões petistas. ;Bem vindo, Brasil, a um novo jeito de governar;, foi o bordão repetido nos segundos finais da propaganda. (AS)
O medo de perder benefícios sociais
Ao assistir à estreia da propaganda eleitoral de Dilma Rousseff (PT) na televisão, a dona de casa Edina Lúcia dos Santos, 40 anos, moradora de Águas Lindas de Goiás, balançava a cabeça em sinal de aprovação ao discurso da petista: ;Você não pode se abater por uma dificuldade. Todo dia você tem de matar um leão;, disse a presidente. Nos 11 minutos e 24 segundos a que teve direito, Dilma ressaltou que, nos 12 anos do partido no poder, mais de 30 milhões de brasileiros saíram da miséria e melhoraram de vida. Para Edina, a promessa de ampliação de programas sociais, como o Brasil sem Miséria, o Mais Médicos e o Bolsa Família ; todos mencionados na propaganda ;, são pontos fortes da candidata à reeleição.
No lote onde mora em Águas Lindas, entorno do Distrito Federal, Edina conta que, até 2006, nunca havia votado no PT. Ela diz que tinha um ;pé atrás; com o partido, ao contrário do marido, cujo voto sempre fora de Luiz Inácio Lula da Silva. Após o primeiro mandato do ex-sindicalista, no entanto, ela notou melhorias na própria vida e na de ;milhões de pessoas no Nordeste;. ;Com o Lula os pobres conseguiram comprar suas coisinhas.; Por ;coisinhas;, Edina se refere a móveis, geladeira, fogão e um boa televisão. ;Parece que o dinheiro teve mais valor. Antes, não tinha tanto.;
E quando Lula apareceu no vídeo dizendo que o segundo mandato dele foi o melhor, e que o de Dilma também será, Edina novamente balança a cabeça em aprovação. ;Tenho medo de perder o que conquistamos, apesar de ainda haver muita gente na miséria;, resume, ao explicar por que votará na petista. (JC)
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