postado em 23/08/2014 15:26
Às 8h35 de 24 de agosto de 1954, há 60 anos, Getúlio Vargas atirou contra o próprio peito, no quarto que lhe era reservado no Palácio do Catete, então sede do Poder Executivo, no Rio de Janeiro. Pressionado pela oposição e pelos militares, Vargas corria o risco de deposição do poder, naquele dia. Ao puxar o gatilho, Vargas adiou em 10 anos o intento militar. Veja como foram as últimas horas do maior político brasileiro de todos os tempos.
23 de agosto
- 11h ; A alta oficialidade da Marinha lança o manifesto dos Almirantes, exigindo a renúncia de Vargas. No dia anterior, o manifesto dos Brigadeiros já declarava a mesma intenção.
- 23h ; O Exército adere ao movimento golpista, com a chegada ao Catete de manifesto assinado por 27 generais, também pedindo a saída de Getúlio.
24 de agosto
- 0h ; O ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, e o marechal Mascarenhas chegam ao Catete e comunicam a Vargas que a deposição é inevitável. Enquanto Vargas conversava com os dois militares, aviões da Aeronáutica davam rasantes sobre o Palácio do Catete. Devido à hora avançada, Getúlio vestia trajes informais: calça esporte de mescla e blusão.
- 0h30 ; Aconselhado por Mascarenhas, Getúlio chama os ministros ao Catete. Tancredo Neves, que já estava no palácio, recebe de Vargas uma caneta-tinteiro: ;Guarde isso, como lembrança destes dias;, disse Vargas, para o espanto do ministro da Justiça.
- 2h ; Começa a reunião no Salão Ministerial. Getúlio vestia um terno cinza-azulado. Sereno e firme, pede que cada um dos ministros civis e militares opinem sobre a situação. O manifesto dos generais, que só seria publicado pela manhã, já chegara a 37 assinaturas, informou Zenóbio.
Tancredo Neves, ministro da Justiça, defende a manutenção da ordem legal: ;Se aparecerem soldados para depor o presidente, a solução é resistir;. A posição foi seguida por alguns ministros civis, que recuaram ante o cenário de insubordinação das tropas descrito pelos militares.
A filha e conselheira de Vargas, Alzira, toma a frente e analisa a tal revolta militar: ;Dos 13 generais;, começou, corrigindo e provocando Zenóbio, ;só um tem comando de tropa e não é aqui na capital; os outros exercem funções burocráticas;. O salão ficou inflamado. Ernani do Amaral Peixoto achou a solução conciliadora: o licenciamento temporário do presidente. - 4h20 ; Vargas se pronuncia: ;Já que os senhores não decidem, vou decidir;. O presidente ordenou aos militares a manutenção da ordem e dos preceitos constitucionais. ;Se quiserem impor a violência e chegar até o caos, daqui levarão apenas o meu cadáver;, anuncia antes de se retirar do salão e subir para o quarto, no terceiro andar.
- 5h30 ; Os ministros concluem a redação da nota oficial com o posicionamento do governo: a licença temporária de Vargas. O major Ene Garcez dos Reis, chefe do pessoal do Gabinete Militar da presidência, distribui fuzis e metralhadoras aos subordinados que protegiam o Catete. Lutero, filho de Vargas, comunica ao pai: ;Estamos prontos para a luta;, ao que Vargas, mais uma vez, responde insinuando o suicídio: ;Não vai haver luta. Nenhum sangue será derramado aqui hoje. Se algum sangue for derramado, será o de um homem cansado e enojado de tudo isso;.
- 7h ; Chega ao Catete a notícia de que os militares rejeitam a licença temporária.
- 8h30 ; Vargas dispensa o camareiro Barbosa, que todos os dias lhe fazia a barba. Alegou querer dormir mais um pouco. Usava um pijama listrado em bordô, cinza e branco.
- 8h35 ; Ecoa pelo Palácio do Catete o tiro dado por Vargas contra o próprio peito, direto no coração. Tão logo a carta-testamento deixada por ele foi levada ao conhecimento da população pelo rádio. As ruas do Rio de Janeiro foram tomadas de comoção. Getúlio estava morto, e o golpe que o tiraria do poder, fracassado.
[SAIBAMAIS]