Paulo de Tarso Lyra
postado em 05/09/2014 06:02
Empatadas tecnicamente no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) têm trajetórias de vidas distintas, embora militantes da esquerda brasileira, que se cruzam em 2002, ainda durante o governo de transição, quando a atual presidente é escolhida como ministra de Minas e Energia e a socialista, ainda petista à época, é indicada para o Meio Ambiente. De lá para cá, ocorreram vários embates econômicos, ambientais, ideológicos. Brigaram por espaço dentro do governo Lula e, pela segunda eleição consecutiva, disputam o voto do eleitorado brasileiro.As duas inimigas íntimas e conceituais apresentam trajetórias que se assemelham no conteúdo, mas jamais na forma. Marina é acriana, filha de seringueiros pobres. Alfabetizada aos 16 anos, formou-se em história 10 anos depois. Onze anos mais velha que a adversária ao Planalto, Dilma é mineira e foi presa durante a ditadura militar por integrar um grupo de combate à repressão. Era 1970 e Marina, com 12 anos de idade, trabalhava no seringal para ajudar no sustento familiar e lutava contra a malária e leshimaniose. Com essa idade, já tinha perdido a mãe e duas irmãs, todas por doenças relativas à falta de tratamento adequado às pessoas pobres.
Dilma surgiu no PDT. Marina filiou-se ao PT em 1986, um ano depois de montar a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao lado do seu mentor, Chico Mendes. A atual presidente engrenou uma carreira de secretária de Estado, já militando politicamente no Rio Grande do Sul, enquanto Marina elegeu-se vereadora, deputada estadual e, em 1994, tornou-se a mais jovem a garantir uma cadeira no Senado, aos 36 anos.
Em 2002, as duas se encontraram no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde havia sido montado o governo de transição PSDB-PT. ;Nós todos estávamos, de uma maneira ou outra, irmanados em um projeto, embora, em vários momentos, tenhamos apoiado candidaturas distintas. Quando Lula assumiu em 2003, nós éramos um governo;, resumiu o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), que foi companheiro de Esplanada de ambas entre 2003 e 2004, quando comandava a pasta das Comunicações.
Miro reconhece que as duas presidenciáveis tinham posições divergentes em vários momentos. E que o presidente Lula adorava mediar esse tipo de conflito. ;Ele colocava, em uma mesa redonda, as pessoas que tinham opiniões distintas. Virava e pedia: ;diz aí;;. Para provocar ainda mais debate, Lula, às vezes, convidava pessoas que não entendiam nada do assunto para saber se eles tinham entendido as explicações, recorda o ex-ministro.
Miro, que é aliado de Marina na corrida presidencial, acredita que, se as duas forem colocadas juntas em uma mesa de debates, terão mais convergências do que divergências. ;Desde que estiverem isoladas do contexto eleitoral. Neste momento, isso se torna impossível;, reconheceu.
Tensão
Candidato a deputado federal pelo PDT brasiliense, André Lima, um dos auxiliares mais próximos de Marina ao longo do segundo mandato de Lula, lembra que, se não fosse o esforço da ex-ministra para impor alguns limites no debate, os desastres seriam enormes. ;A preocupação ambiental e ecológica de Dilma Rousseff é zero;, reclamou ele.
O embate entre ambas, que era morno quando Dilma ocupava o Ministério de Minas e Energia, intensificou-se no momento em que ela assumiu a Casa Civil, no lugar de José Dirceu, abatido no escândalo do mensalão. E aumentou a decibéis ensurdecedores quando, no início do segundo mandato, o governo optou pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e intensificou a pressão pelas licenças ambientais para rodovias e hidrelétricas.
A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique .