Jornal Correio Braziliense

Politica

Novos índices de desemprego e de desigualdade viram combustível eleitoral

Presidenciáveis tentam capitalizar pesquisa do IBGE que mostra queda em índices sociais. Aécio e Marina associam a diminuição na oferta de emprego e o aumento do abismo social à má gestão de Dilma, mas petista relativiza números. Especialistas culpam baixo crescimento econômico

A pouco mais de duas semanas do primeiro turno, o mais recente recorte da realidade do país ; a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ; abasteceu os discursos eleitorais dos presidenciáveis, especialmente os que tentam tirar o PT do Palácio do Planalto. A informação de que a taxa de desemprego subiu de 6,1% para 6,5% e de que o Coeficiente de Gini da renda dos trabalhos (que mede a desigualdade de renda no país) permaneceu praticamente estável nos últimos três anos, com ligeiro aumento em 2013, animou a oposição a desconstruir o discurso de inclusão social do governo federal. ;A administração da pobreza faz bem ao projeto do PT;, afirmou o tucano Aécio Neves. ;A interrupção na queda de desigualdade e o aumento do desemprego são resultado de políticas erráticas do governo;, completou Marina Silva (PSB).



Para Marina, ;inclusive os cabos eleitorais; de Dilma estão apavorados com a possibilidade de perder. Segundo ela, toda vez que se fala que a petista corre o risco de aumentar seus percentuais nas pesquisas, a Petrobras se desvaloriza. ;Isso é falta de credibilidade;, pontuou. Os resultados da pesquisa também foram destacados pelo candidato do PSDB, Aécio Neves. Em Itabuna (BA), o tucano disse que o PT comemora os dados em vez de trabalhar a melhoria dos índices. ;Estamos virando o país do pleno emprego de dois salários mínimos. Esses empregos são importantes, mas é essencial que nós encontremos formas de dar competitividade ao setor industrial, onde estão os empregos de qualidade.;

Dilma, por outro lado, fez uma leitura positiva dos números e retrucou os oposicionistas. Além de ter destacado dados como o aumento no número de casas com máquina de lavar, ;que tira a mulher do tanque;; e a redução do analfabetismo, ;que caiu, e a torneira que produzia analfabetos foi fechada;, a petista mirou diretamente a candidata do PSB.

Em coletiva de imprensa em Brasília, Dilma rebateu a adversária, que ;muda de opinião com muita facilidade;. ;Eu nunca sei de fato o que ela pensa porque ela pensa uma coisa um dia e outra coisa no outro dia. O que estou dizendo aqui é que, se você olhar o meu período de governo, incluindo os oito meses atuais, temos uma queda na desigualdade;, argumentou. Ela alegou ainda que o aumento do desemprego é pontual e lembrou que foram criados 756 mil postos formais, além de enaltecer o aumento médio da renda. ;Óbvio que as taxas de emprego não vão crescer como antes porque não tem nem para onde ir;, minimizou.

Discurso e realidade
A distância entre o discurso oficial e a realidade cotidiana é sentida pela ex-auxiliar de serviços gerais Nayara Góes, que pediu demissão do local em que trabalhava para buscar ;algo maior; enquanto mantém o sonho de cursar educação física. ;Hoje, estou procurando um curso, de preferência de informática, mas vou ver quais estão abertos. Mas, já que estou aqui, vou aproveitar para ver se tem emprego;, diz a jovem, de 24 anos, ao explicar a visita à Agência do Trabalhador do Plano Piloto na manhã de ontem.

Passados ;longos 10 meses de desemprego;, ela lamenta não ter conseguido vagas para os cursos de libras e de turismo no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Com o ensino médio completo, Nayara vê no mercado de trabalho o maior entrave para conseguir uma nova vaga. ;É a economia que não está bem. Conheço gente que só faz bico há dois anos, não consegue nada fichada.;