Agência France-Presse
postado em 10/11/2014 18:14
Nova Deli- As vítimas da catástrofe de Bhopal, uma cidade no centro da Índia, onde um vazamento de gás tóxico ocorrido há 30 anos provocou deformações e enfermidades que afetaram milhares de pessoas, iniciaram nesta segunda-feira (10/11) uma greve de fome em Nova Délhi para pedir maiores indenizações.Exibindo cartazes com dizeres como "Justiça para Bhopal", cerca de 100 pessoas, a maioria mulheres e crianças, protestaram na capital indiana, incluindo vítimas da primeira e da segunda gerações do pior acidente industrial da história.
Satinath Sarangi, ativista de Bhopal, disse que um punhado de manifestantes vai jejuar indefinidamente, na esperança de chamar a atenção do primeiro-ministro, Narendra Modi, aos apelos das vítimas da catástrofe, ocorrida em 1984. "Viemos aqui com a esperança de que o governo atual, chefiado pelo senhor Modi, corrija os erros feitos pelo governo anterior e garanta que as vítimas do gás recebam indenização extra", disse Sarangi à multidão.
Sarangi também instou o governo de direita de Modi, que chegou ao poder em maio com o compromisso de reativar a economia, a não negligenciar quaisquer crimes ambientais cometidos por empresas na busca de atrair investimentos estrangeiros.
Milhares de pessoas morreram quando 40 toneladas do letal gás metil-isocianato vazaram das instalações da fábrica de pesticidas americana Union Carbide na cidade de Bhopal (centro), em 2 de dezembro de 1984. A tragédia matou entre 8.000 e 10.000 pessoas nos primeiros três anos, segundo dados do estatal Conselho Indiano de Pesquisas Médicas, mas outras centenas de milhares sofrem as consequências até hoje.
"Eu me lembro de pessoas correndo de dentro de suas casas para tentar fugir do gás, (lembro) de crianças mortas nas ruas", contou Premlata Chaudhary, de 67 anos, que mora em seu povoado ancestral, a menos de um quilômetro da fábrica.
"Eu me lembro de cobrir meu rosto e o rosto dos meus filhos, de pegá-los e correr", relatou Chaudhary, que perdeu um dos seus seis filhos na catástrofe. Chaudhary, que sofre de doenças respiratórias e estomacais, disse que a indenização que recebeu da empresa, de 25.000 rúpias (US$ 406), acabou 15 anos depois da catástrofe.
Na segunda-feira, os manifestantes pediram ao governo Modi que tente acelerar uma ação legal por indenizações mais expressivas. Em 2012, o governo indiano apresentou uma petição na Suprema Corte, pedindo maiores indenizações da companhia, estabelecidas inicialmente em US$ 470 milhões em um acordo alcançado em 1989.
A também americana Dow Chemical, que comprou a Union Carbide depois da catástrofe, insiste em que todas as obrigações da empresa foram contempladas no acordo de 1989.