Politica

Escolha de ministros desagrada aliados mais próximos e exaspera puristas

Na montagem da equipe para enfrentar os desdobramentos do escândalo da Petrobras no próximo ano, Dilma tem atuado com uma lógica própria

Paulo de Tarso Lyra
postado em 28/12/2014 08:00

Na montagem da equipe para enfrentar os desdobramentos do escândalo da Petrobras no próximo ano,  Dilma tem atuado com uma lógica própria

Eleita com 51,6% dos votos válidos no final de outubro, a presidente Dilma Rousseff prometeu, em seu discurso da vitória, unificar os brasileiros a partir de 1; de janeiro. Mas está encontrando dificuldades para obter consensos nas escolhas para o próprio ministério. Além de enfrentar resistência na base de apoio e desagradar politicamente os mais diferentes setores, as opções escolhidas desconsideraram princípios, digamos, mais puros. O anúncio do início da semana veio com nomes enrolados no Supremo Tribunal Federal (STF) ou com passado nebuloso. O arranjo político encontrado por Dilma para enfrentar a crise, principalmente em decorrência dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, ignorou até, por exemplo, a vida pregressa do novo ministro do Esporte, George Hilton, flagrado pela Polícia Federal, em 2005, com R$ 600 mil em espécie num jatinho particular fretado pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Contra o pastor licenciado George Hilton, ainda pesa o fato de ele ter omitido da Justiça Eleitoral propriedade numa empresa devedora da União. O senador Eduardo Braga, que vai assumir a pasta de Minas e Energia, é investigado pelo STF por suposto crime eleitoral quando governava o Amazonas. Kátia Abreu, que vai para a Agricultura, enfrentou resistência tanto do setor produtivo quanto dos movimentos sociais. Ela também responde no STF por ter utilizado o Brasão da República, um símbolo oficial, em documentos da entidade que preside, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. O time dos encrencados com a Justiça ainda conta com Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho. Ele responde a processos por improbidade administrativa na Justiça Federal do Pará por suspeita de desvio de recursos da Saúde, em 2005, quando era prefeito de Ananindeua. Em seis anos, o patrimônio do candidato derrotado ao governo do Pará aumentou 183%.

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O fato é que Dilma já foi criticada pela esquerda petista, pelo campo majoritário do PT, pelos ruralistas, pelos peemedebistas e até por uma parte do PCdoB, que ainda não entende por que a legenda perdeu o Ministério do Esporte. Aldo Rebelo, agora, será o ministro da Ciência e Tecnologia. A troca também é motivo de crítica. É o homem errado no lugar errado. Em 1994, Rebelo apresentou projeto de lei para proibir a ;adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão de obra;. Além disso, ele criticou, no passado, políticas de prevenção do aquecimento global, outra área de interesse do ministério.

A presidente vai montando a equação ministerial, pensando mais nela e em seu governo do que nos aliados que a ajudaram a conquistar mais quatro anos de poder para o Palácio do Planalto. As primeiras queixas vêm, exatamente, do partido ao qual é filiada ; o PT. Embora ainda não confirmado pela presidente, a indicação do deputado Pepe Vargas (RS) para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) tem desagrado o campo majoritário do partido, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os lulistas estão incomodados com o Planalto ;dilmista; que se desenha. O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é mais próximo da presidente do que do antecessor. Miguel Rossetto, que assumirá a Secretaria-Geral no lugar de Gilberto Carvalho, foi coordenador-geral da campanha de reeleição de Dilma. E Vargas foi ministro do Desenvolvimento Agrário ao longo do primeiro mandato.

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