postado em 30/12/2014 11:43
Atletas brasileiros consagrados e de renome internacional, incluindo medalhistas olímpicos, reagiram duramente, na manhã de ontem, à nomeação do novo ministro do Esporte, o pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e deputado federal George Hilton (PRB-MG). Anunciado pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, Hilton foi expulso do PFL em 2005, após ser flagrado, no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, com R$ 600 mil distribuídos em caixas de papelão (R$ 976 mil, em valores atuais). A ONG Atletas pelo Brasil, composta por esportistas e ex-esportistas do nível de Ana Moser, Dunga, Hortência, Raí, Bernardinho, Joaquim Cruz e Torben Grael, entre outros, publicou nota oficial afirmando que todos se sentem ;envergonhados e desprestigiados;. No manifesto, os atletas dizem que a pasta do Esporte serve apenas para fazer barganha política.No comunicado, cobram respeito e mais zelo ;com tudo que envolve o tema esporte no Brasil;. Os integrantes da entidade, presidida pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser, medalha de bronze na Olimpíada de Atlanta, em 1996, ressaltam que ;os critérios, ou a falta deles, que foram usados para a escolha do novo ministro; evidenciam a falta de cuidado do governo federal. ;Não se trata de decidir quem seria a melhor pessoa para ocupar o cargo, mas qual partido o terá de acordo com as alianças e que decidirá a seu bel-prazer quem o representará. Nem mesmo uma familiaridade com o tema é observada, o que traz enormes prejuízos ao esporte e ao país em um setor que está à frente de um enorme investimento com os megaeventos esportivos;, critica.
[SAIBAMAIS]No manifesto, a ONG salienta que a nomeação meramente política, em grande parte das vezes, acarreta o aumento da ineficiência de gestão, descontinuidade das ações e reinício de processos e convencimentos. Os atletas destacam, ainda, a realização dos Jogos Olímpicos, que ocorrerão no Rio de Janeiro em 2016.
O comunicado alerta que a imagem dos esportistas brasileiros não deve mais ser utilizada pelo governo federal nos momentos de sucesso. ;Nós, atletas, não podemos mais ser usados simplesmente para fotos conjuntas em momentos de vitória nacional. Vamos ser francos, essas conquistas são muitas vezes obtidas a despeito da política esportiva, da legislação e da condução nacional do esporte. E, em alguns casos, encontrando até forças contrárias, que dificultam o caminho;, salienta o manifesto.
Denúncias
O novo ministro do Esporte substitui Aldo Rebelo (PCdoB), que passa a comandar a pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação. A nomeação de Hilton gerou um bombardeio de denúncias. A primeira delas, a de que, em 2005, quando era deputado estadual, foi surpreendido numa aeronave fretada pela Igreja Universal com R$ 600 mil em espécie. Na época em que foi abordado pela Polícia Federal, contou que os recursos, em notas de vários valores, eram provenientes de doações de fiéis. Acabou sendo expulso pela Executiva Nacional do PFL. Na época, o senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, foi contra a expulsão, no entanto, a maioria do comando partidário achou melhor tomar a atitude para se contrapor ao escândalo do mensalão petista que ganhava força na imprensa e no Congresso.
Hilton dobrou seu patrimônio desde que passou a informar à Justiça Eleitoral os valores de seus bens. Era de R$ 294 mil em 2006, quando obteve seu primeiro mandato de deputado federal. Em 2010, ele foi reeleito e afirmou ter R$ 472 mil. Na edição de sexta-feira, o Correio mostrou que o novo ministro não declarou à Justiça Eleitoral a propriedade de uma empresa de transportes em que é sócio da esposa. A Visão Locação e Transportes Ltda., criada em 2004, está registrada em Belo Horizonte e tem um processo de execução fiscal na Justiça Federal.
Pela ação, Hilton, a esposa dele, Gorete Cecílio, e a firma são executados a pagarem R$ 29 mil. Após duas tentativas de penhora de bens para quitar a dívida, o juiz afirmou eles estavam em ;local incerto e não sabido;. O novo titular de Esporte alegou que a empresa estava inativa e, por isso, não declarou. O Palácio do Planalto e Hilton não comentaram a nota assinada pelos atletas.
Manifesto
Confira os principais trechos do documento assinado pela ONG Atletas pelo Brasil
;Infelizmente, há anos, o Ministério do Esporte é usado na barganha política. Não se trata de decidir quem seria a melhor pessoa para ocupar o cargo, mas qual partido o terá de acordo com as alianças e que decidirá a seu bel-prazer quem o representará. Nem mesmo uma familiaridade com o tema é observada, o que traz enormes prejuízos ao esporte e ao país em um setor que está à frente de um enorme investimento com os megaeventos esportivos.;
;A nomeação com critério unicamente político, na maior parte das vezes, traz consigo o aumento da ineficiência de gestão, descontinuidade da política, reinício de convencimentos e processos e tudo isso com custo aos cofres públicos.;
;Às vésperas da Olimpíada, a presidente Dilma abriu mão de uma oportunidade de melhorar a gestão do esporte. Decepcionou todo um setor de atletas, jornalistas, empresários, organizações, trabalhadores e amantes do esporte em geral.;
;E nós, atletas, não podemos mais sermos usados simplesmente para fotos conjuntas em momentos de vitória nacional. Vamos ser francos, essas conquistas são muitas vezes obtidas a despeito da política esportiva, da legislação e da condução nacional do esporte. E, em alguns casos, encontrando até forças contrárias a dificultar o caminho. Se os governantes querem estar ao lado das vitórias, devem tomar consciência da sua enorme responsabilidade nas derrotas.;