Politica

Sem investimentos, colapso do sistema hídrico será apenas adiado

Planalto e governadores apostam nas chuvas, mas especialistas alertam que só isso não é suficiente

postado em 26/01/2015 08:52
A declaração recorrente das autoridades sobre a maior seca que a Região Sudeste já viu desde 1930 virou alvo de ataques dos especialistas por um motivo: caso a chuva caia do céu, o problema será apenas empurrado, mais uma vez. No dia do aniversário de São Paulo, o prefeito da cidade, Fernando Haddad, repetiu o apelo dos governantes por chuva. ;Todo mundo está pedindo chuva. É meio óbvio o presente deste ano;, disse na comemoração dos 461 anos da cidade, ontem. De acordo com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que falou em nome do governo federal na última sexta-feira, é preciso ;ver a quantidade e se caem nos lugares corretos;. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, já foi além e apostou na intervenção divina. ;Deus é brasileiro e temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva;, disse na terça-feira. Especialistas reconhecem que a precipitação atual está fora da média histórica, mas que isso tudo é agravado pela falta de investimentos, desde que o primeiro alerta soou.

Ponte sobre um dos reservatórios do sistema Cantareira: Primeiro alerta a respeito de um possível racionamento em SP foi há 15 anos

[SAIBAMAIS]No caso de São Paulo, os avisos foram constantes. Em junho de 2000, 3 milhões de paulistanos foram pegos de surpresa com o anúncio de um racionamento, por uma baixa na represa da Guarapiranga. Na época, uma das maiores preocupações era em diminuir o desperdício da rede hídrica, calculado em 40% da produção. Em 2004, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) recebeu um documento do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) do estado que apontava as fragilidades do sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 6,5 milhões de moradores do estado. O estudo enfatizava, principalmente, a dependência do sistema.



Tanto a confiança excessiva em um único reservatório, sem plano de emergência, quanto o descaso relacionado ao que se perde entre a água captada e a torneira da casa de casa consumidor foram negligenciados. Segundo o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide, especialista em recursos hídricos, ter investido na preservação da água e na conscientização do seu uso teria evitado a crise que a região enfrenta hoje. ;Uma medida de médio prazo é investir na redução das perdas, mas pouca gente fez isso. Outra, de longo prazo e que ninguém pensam, é em manter uma reserva de contingência. Os gestores ficam satisfeitos quando têm o suficiente, mas é preciso ter além do atendimento;, explica.

Um exemplo que Koide usa para sustentar a tese da necessidade de um plano alternativo é a contaminação do Rio Paraíba do Sul, principal fonte de abastecimento do Rio de Janeiro. Em 1982, um vazamento contaminou até a foz com resíduos de metais pesados. ;Por sorte, o material foi derramado logo abaixo da barragem, Se tivesse sido acima, a situação seria muito crítica;, avalia. Segundo ele, uma saída é a utilização dos sistemas de poços subterrâneos. ;Nem são para usar de imediato, mas para um momento de estiagem mais grave;, pontua.

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