Naira Trindade
postado em 16/03/2015 06:39
Aos 25 anos e no segundo mandato de deputado federal, o presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), mostrou, já na primeira sessão da comissão, que, apesar da pouca idade, está disposto a enfrentar a tudo e a todos para se impor na Câmara dos Deputados. Com frases como ;não serei fantoche; e ;não tenho medo de grito;, Motta rebateu, exaltado e com dedo em riste, as críticas do deputado Edmilson Rodrigues (PSol-PA), que o chamou de ;moleque;. A cena retratou o que se pode esperar das próximas sessões que vão investigar ; além dos desvios de corrupção na estatal brasileira ; seus pares. Até o momento, 13 senadores e 22 deputados estão na mira das investigações da Operação Lava-Jato. Falando sempre no plural, Motta diz que não pretende poupar ninguém e promete investir alto para tentar recuperar toda a verba desviada da estatal. Leia os principais trechos da entrevista:
Ao assumir, o senhor recebeu muitas críticas de que seria uma marionete manipulada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na CPI da Petrobras. Como pretende mudar essa visão?
Eu vivo num sistema democrático e tenho que escutar essas críticas. Porém, discordo frontalmente. Fui indicado pelo meu líder, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Não pedi para ser presidente. Isso é fruto do nosso trabalho na Comissão de Fiscalização. É um desafio para mim e acredito eu que tenho de dar essa contribuição. Tenho deixado muito claro que nossa conduta lá é autônoma. Não admito interferência de quem quer que seja no nosso comportamento. Tenho que agir como magistrado, que é ser imparcial.
[SAIBAMAIS]Pretende ter uma postura dura na investigação contra peemedebistas citados na operação?
Minha posição é de magistrado. O deputado Hugo, do PMDB, é um e o presidente da CPI é outro. Isso será, sem dúvida, muito claro na nossa sessão. Até porque é minha reputação que está em jogo.
O relator petista Luiz Sérgio (RJ) também recebeu muitas críticas. Acha que ele apresentará um relatório diferente do vexame da CPMI da Petrobras do ano passado?
Vai sempre haver o questionamento de que a comissão não irá produzir o resultado esperado. Mas prefiro nutrir o pensamento de que o relatório do deputado Luiz Sérgio será isento e parcial. Se não, ele terá de arcar com as consequências disso. O nosso esforço é para que a comissão funcione, que traga quem tenha de trazer, que aprecie o que precisa ser apreciado. Queremos ter todos os elementos necessários para um relatório que tenha o maior número de fatos e de conclusões diante das denúncias para que o relatório possa mais bem subsidiado, com o pedido de punição de eventuais culpados.
Não acha que, se quisesse investigar, estando no governo há 12 anos, o PT já não teria apurado?
É claro que eles teriam investigado dentro dos órgãos de controle do governo. Não estamos aqui para discutir o que não foi feito, mas o que pode ser feito e espero que o futuro seja melhor que o passado.
Pretende investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a presidente Dilma Rousseff?
Como vou defender uma apuração isenta se disser que não vou investigá-los? Não haverá nenhum tipo de imunidade. A CPI vai investigar todos aqueles que cometeram algum tipo de irregularidade. Esse é o nosso objetivo e nós temos que deixar claro. A CPI pode investigar todos que estiverem lá, quem quer que seja.
Como pretende trazer o dinheiro desviado da Petrobras de volta ao Brasil?
Nós temos o compromisso com essa empresa de investigação financeira de fazer uma busca nos paraísos fiscais fora do Brasil para termos a certeza que tudo que foi desviado foi devolvido. A Kroll vai agir em cima das delações, porque há a desconfiança que ainda existe dinheiro escondido no exterior. A intenção da Kroll é buscar as contas e identificar para que possamos entregar o relatório aos órgãos de controle para que seja recuperado. A CPI não tem o poder de recuperar ativos, mas tem o poder de investigar e dizer se há conta fora do país e se os recursos foram devolvidos.