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Youssef diz que Odebrecht usou construtora para pagar propina

Valores tinham origem em subornos na Petrobras e foram pagos no exterior, segundo depoimento de doleiro à Justiça. Andrade Gutierrez, Engevix e Brasken usaram o mesmo mecanismo, às vezes, com ajuda do Labogen. As empreiteiras negam.

Eduardo Militão
postado em 31/03/2015 14:56

O doleiro Alberto Youssef afirmou nesta terça-feira (31/3) que usou empresas de Leonardo Meirelles para lavar dinheiro de corrupção na Petrobras. Ele disse que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, duas das maiores empreiteiras que não tiveram executivos presos na Operação Lava-Jato, fizeram pagamentos a ele em espécie ou no exterior como parte das propinas. A Odebrecht usou a construtora Del Sur para mascarar os subornos, segundo o depoimento.

As firmas de Meirelles, como os laboratórios Labogen e Piroquímica, são o centro de um processo sobre remessas ao exterior consideradas ilegais na investigação. Esse foi um dos primeiros processos criminais da Operação Lava-Jato, aberto há quase um ano, mas o doleiro se negava a prestar qualquer declaração. Após fechar acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, em outubro passado, Youssef pediu para falar sobre o caso, o que aconteceu hoje na 13; Vara Federal de Curitiba.

Segundo o doleiro, ele recebeu dinheiro de esquemas ilícitos no exterior não só da Odebrecht e da Andrade, mas também da Brasken (sociedade entre a Petrobras e a Odebrecht), OAS e Engevix. As empreiteiras negaram irregularidades. Youssef não soube precisar se a UTC Engenharia participou do mesmo sistema de irregularidades. No caso da AG, Youssef disse que ainda fez um esquema paralelo, de caixa dois.

O doleiro contou que a Odebrecht, depois que ganhou contratos na refinaria Abreu e Lima, lhe pagou de três formas diferentes. ;Parte dos valores ela me pagou em reais vivos no Brasil e parte me pagou em contas no exterior;, disse Youssef ao procurador Athayde Ribeiro Costa e ao juiz Sérgio Moro. A empreiteira estava consorciada com a OAS na obras. ;Como era consórcio, pediu que a OAS pagasse por meio do consórcio com emissão de notas pela MO, Rigidez e RCI.; Ele disse que a Odebrecht e a Brasken tinham costume de pagar no exterior ou pagar em dinheiro vivo no escritório dele, em São Paulo.

As três empresas são registradas em nome de Waldomiro de Oliveira e foram usadas pelo doleiro para lavar dinheiro, segundo ele confessou às autoridades. Por meio delas e das firmas de Meirelles, Youssef remetia recursos no exterior e obtinha dinheiro vivo no Brasil para alimentar o caixa do Partido Progressista e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.


O doleiro disse que ;tudo indica; que a construtora Del Sur pertença à Odebrecht e tenha sido usada para pagá-lo. ;Uma vez, recebi uma ordem, não sei se numa das contas indicadas pelo Carlos Rocha ou numa das contas indicadas pelo Leonardo, da Odebrecht, que a remessa foi feita pela Construtora Del Sur.; O doleiro disse que recebeu ;duas ou três vezes; por meio dessa empresa.

Ele disse que seu contato na empreiteira era Márcio Faria, presidente da divisão de Óleo e Gás e o diretor financeiro da controladora, César Rocha. O contato na Brasken foi identificado apenas como Alexandrino.

Youssef afirmou que fez três operações para a Andrade Gutierrez, no fim de 2013 e no começo de 2014. Numa delas, mandou US$ 300 mil dólares por meio de uma empresa chamada DGX. Em outras duas, de US$ 150 mil cada, o objetivo era financiar eleições ilegalmente. ;Não tem nada a ver com a Petrobras. Foi uma operação de caixa dois para a Andrade." A Engevix, disse ter recebido US$ 253 mil dólares no exterior. O valor entrou na conta da RFY. O doleiro disse que suas contas no exterior, em nome do João Procópio, receberam ;várias remessas da OAS;.

Reais para políticos

O doleiro e Leonardo Meirelles atuavam em sociedade, mas, após estourar a Operação Lava-Jato, passaram a se acusar mutuamente no processo. Ele disse que fez várias operações com ele, mas não milhares, como consta do processo. Para lavar dinheiro de empreiteiras, ele se valia de empresas em nome de Waldomiro de Oliveira: MO Consultoria, Empreiteira Rigidez e RCI Software. "Essas empresas emitiam notas contra as empreiteiras por serviços não prestados para que a gente pudesse receber esses recursos oriundos dos contratos ilícitos com a Petrobras", disse o doleiro.

Youssef negou que fosse dono do Labogen e disse que Meirelles era mais um operador, assim como ele. "Posso ter feito dezenas, duas dezenas, três dezenas, não 3 mil contratos de câmbio", disse. "Ele (Meirelles) já era operador do mercado. Eu passei a trocar reais vivos com ele, por meio de TEDs, pelas empresas do Waldomiro. Eu fazia emissão de notas nas empresas do Waldomiro contra as empreiteiras, para que eu pudesse obter reais vivos e assim, com esses reais, pagar quem era de direito, no caso, Paulo Roberto Costa e os políticos do PP."

Engrenagem

Em dois momentos, Youssef fez o mea culpa. "Reconheço o meu erro. Resolvi fazer a colaboração espontaneamente". O doleiro reafirmou as declarações. "Eu era meramente uma engrenagem desse processo. Tinha o poder público por trás disso." O doleiro ressaltou que, após o caso Banestado, quando ficou livre ao pagar multa graças a um acordo de delação premiada, poderia ter ficado em casa, mas resolveu investir em empresas de verdade. Entretanto, voltou a atuar no mundo do crime por meio da Petrobras. "Abandonei a atividade de doleiro, mas me envolvi no negócio da Petrobras, infelizmente."

Sem cartel

Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o executivo da Setal Augusto Mendonça, as empreiteiras formaram um cartel para combinar licitações na Petrobras. Os contratos eram superfaturados entre 1% a 3%, dinheiro excedente que era pago a funcionários da estatal, políticos e partidos, por meio de operadores do mercado, como Alberto Youssef. Mas a maioria das empreiteiras têm negado participação em esquemas de corrupção na Petrobras.

A Andrade Gutierrez negou relações com Youssef e apontou incoerências em seu depoimento com afirmações anteriores. ;A Andrade Gutierrez nega que tenha mantido qualquer tipo de contato com o Sr. Alberto Youssef;, disse a empresa em nota ao jornal. ;Vale ressaltar, inclusive, que, em depoimentos anteriores, o Sr. Alberto Youssef já havia deixado claro que não tratava de qualquer assunto com a Andrade Gutierrez e seus executivos. A Andrade Gutierrez reitera, como tem feito desde o início da Operação Lava Jato, que não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso.;

A Odebrecht disse que as afirmações do doleiro são ;alegações caluniosas; feitas por um ;réu confesso;. ;A Odebrecht nega a existência de qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas;, disse a empreiteira em nota ao jornal.

A Braskem negou irregularidades. ;Todos os contratos da Braskem com a Petrobras e os pagamentos a eles relacionados sempre seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente e de acordo com as mais rigorosas regras de governança corporativa;, disse a empresa em nota ao Correio.

A Engevix disse que não comentaria o caso e que já presta esclarecimentos à Justiça. A OAS e UTC não retornaram o pedido de informações do jornal.

Sem vínculos

Um dia depois da publicação desta notícia, na sexta-feira (1;/4), a Odebrecht disse que nunca teve ligações com a Construtora Internacional del Sur. A Del Sur não pertence à empreiteira, segundo nota enviada ao Correio. "Esclarece ainda que nunca fez qualquer pagamento à referida empresa", diz a assessoria da Odebrecht. "Portanto, não são verdadeiras as notícias que vêm sendo veiculadas que atribuem à Odebrecht a responsabilidade por pagamentos efetuados no exterior aos réus confessos Alberto Youssef e Pedro Barusco.;

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