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Politica

100 dias de governo: Problemas se acumulam no governo Dilma Rousseff

Dilma conclui o primeiro trimestre do segundo mandato com um escândalo de corrupção de proporções cada vez maiores, dificuldades crescentes na relação com o Congresso e índices de popularidade derretendo

Um governo que não começou. São exatos 100 dias, completados na próxima sexta-feira, e a presidente Dilma Rousseff (PT) não conseguiu sair das cordas. A face mais visível da nova gestão nesses três primeiros meses, diante dos escândalos de corrupção que parecem não ter fim, é a paralisia. Pior: o desemprego bate na porta dos brasileiros e as projeções de crescimento para 2015 são as piores possíveis. O país do ;governo novo, ideias novas;, vendido durante a campanha eleitoral, não conseguiu espantar o fantasma da inflação. Medidas impopulares foram tomadas diante da necessidade de ajuste urgente das contas.

Com o cinto mais apertado, as ruas, inflamadas pela oposição, já começaram a mandar o recado. A presidente também enfrenta dificuldades para convencer até os aliados. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) criticou os tarifaços de luz, de água e dos combustíveis.

No plano político, o diálogo com a outra metade do Brasil, prometido por Dilma em discurso logo após a divulgação do resultado da eleição, não aconteceu. A presidente ;que não escuta ninguém; se isolou ainda mais. Diante das crescentes denúncias de corrupção, mergulhou logo no primeiro mês de sua segunda gestão. Saiu da toca em seguida, mas ainda não conseguiu colocar em prática o plano de recuperação de sua popularidade. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio apontam que a presidente falhou ao escolher como principal interlocutor político alguém controverso como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Alegam que falta articulação política para flexibilizar as importantes relações com o Congresso Nacional.



A falta de apetite político da presidente Dilma Rousseff foi explicitada, na opinião do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, ainda durante o discurso proferido logo após a confirmação oficial da vitória nas eleições presidenciais de 2014. Segundo ele, em uma eleição apertada, decidida por uma diferença de apenas 3 milhões de votos, Dilma fez um discurso de diálogo nacional, mas, de maneira arrogante, não estendeu a mão para a oposição. ;Se ela estivesse, de fato, disposta a recompor as pontes políticas, poderia, ao menos, ter citado o nome de Aécio Neves nas palavras em que comemorava a vitória;, disse Melo. ;Ela não desceu do Olimpo;, criticou.

Para o professor do Insper, não há como criticar a presidente afirmando que ela tem conduzido mal a articulação política nesses três primeiros meses de governo, pois ela nunca tem essa ferramenta como característica. ;O país vivendo as incertezas da crise econômica, Dilma demite Guido Mantega durante a campanha presidencial e demora uma eternidade para escolher Joaquim Levy como sucessor;, lembrou ele. Melo segue enumerando os erros. ;Ela escolheu como principal interlocutor político alguém controverso como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. E agregou a ele outros políticos de personalidade forte e pouca habilidade na articulação, como Miguel Rosseto na Secretaria-Geral;, criticou.

O ano virou e os equívocos se acumularam. A presidente não percebeu que poderia ser derrotada na disputa pela presidência da Câmara e resolveu comprar briga com o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). ;Você só encara uma briga desse tamanho se tiver condições de vencer. Perdeu e não soube mais recompor as relações;, disse Melo.

Ao contrário de outros analistas que celebraram a boa participação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em audiência, na terça-feira passada, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Melo viu na atuação do comandante da equipe econômica mais uma prova da fragilidade política do Planalto. ;Você viu um Levy implorando para que o Senado aprove o ajuste e não votasse o projeto do indexador das dívidas de estados e municípios;, citou o cientista político.

Um senador aliado, que estava presente à audiência de Levy na CAE, desabafou: ;Destacar o que desses três primeiros meses de governo Dilma? Nada. O governo envelheceu antes da hora;, lamentou o petista. ;Estamos nos engalfinhando em um emaranhado de problemas que parecem não ter fim.; Para esse aliado, Dilma conseguiu reverter a tradição política brasileira. ;Temos um sistema presidencialista no qual a presidente não tem protagonismo político;, criticou.

Sem paciência
Para um prefeito de uma cidade nordestina, que julga ter bom relacionamento com a presidente, o grande problema é que ela não tem paciência com a política em si. ;Ela não sabe quanto custa uma campanha, quanto é colocar um carro de som na rua, convencer um deputado e um prefeito a distribuir seu santinho. Por isso, não distribui afagos para a base aliada;, analisou o prefeito de um partido de esquerda.

Esse mesmo político resvala para uma comparação inevitável, mas sempre cruel: o estilo Dilma e o estilo Lula. ;De repente, você estava numa rodinha e o celular tocava. Era o Lula para contar uma piada ou dizer uma besteira. Pronto, você tinha uma ligação do presidente em seu celular, virava fã e aliado incondicional;, exemplificou.

A falta de habilidade e a inação do governo levaram a presidente Dilma a derreter nas avaliações de popularidade. Na mais recente pesquisa de opinião, divulgada na última quarta-feira pela CNI-Ibope, ela apareceu com uma avaliação negativa de 64%. Em 15 de março, quase 2 milhões de pessoas foram às ruas pedir Fora Dilma, Lula e o PT. ;Uma nova manifestação está prevista para 12 de abril;, lembrou o professor do Ibmec-RJ Alexandre Espírito Santo, destacando que, nas redes sociais, a convocação segue intensa.

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