Curitiba ; O desgaste à imagem do PT e a mancha no currículo de João Vacari Neto são agravados pelo fato de a cunhada do tesoureiro licenciado do partido estar foragida. Vaccari foi preso na quarta-feira pela Polícia Federal, enquanto Marice Corrêa Lima conseguiu escapar. Até o fechamento desta edição, os advogados dela negociavam a apresentação à Superintendência da Polícia Federal no Paraná. A expectativa era de que ela chegasse hoje à carceragem e engrossasse o rol de detidos na Operação Lava-Jato, que investiga desvios bilionários da Petrobras.
Segundo o doleiro Alberto Youssef, Marice recebeu metade de uma propina de R$ 800 mil destinada ao PT, supostamente paga pela empresa Toshiba após conseguir um contrato de R$ 117 milhões com a Petrobras para obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Em mensagens eletrônicas interceptadas pela PF, o executivo Ricardo Beghiroli, da empreiteira OAS, combina com o doleiro um pagamento para Marice.
Informações da Receita Federal mostraram ;inconsistências fiscais; da cunhada de Vaccari, segundo o juiz Sérgio Moro, da 13; Vara Federal de Curitiba. Um exemplo é a aquisição de um imóvel. Ela comprou um apartamento avaliado em R$ 200 mil, desistiu do negócio antes de quitá-lo e vendeu a unidade por R$ 430 mil para a OAS. A empreiteira, no entanto, só conseguiu revendê-lo por R$ 337 mil.
Vaccari e ex-deputados presos na 11; fase da Lava-Jato, denominada ;A origem;, devem prestar depoimentos a partir de hoje. Faltam ser ouvidos os ex-deputados André Vargas (ex-PT-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE). A expectativa de delegados e advogados, porém, tem se frustrado pela agenda de apurações que ainda são necessárias para o caso. Ainda assim, o PT teme que eventuais declarações do tesoureiro licenciado ampliem a crise que se aproxima cada vez mais do Planalto .
Um dos advogados de Vaccari afirmou ontem que o petista está inconformado e surpreso com a prisão, apesar de estar calmo e ;tranquilo;. ;Ele estava com o direito à liberdade assegurado até então e está colecionando algumas interrogações sobre a prisão;, disse Elias Mattar Assad, na manhã de ontem, ao sair da carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Paraná. Segundo ele, o cliente está bem e divide a cela com outra pessoa.
Habeas corpus
A defesa deve ingressar com pedido de habeas corpus em tribunais superiores para tirar o tesoureiro da cadeia. Segundo nota do advogado Luiz Flávio Borges D;Urso, a prisão de Vaccari ;teve por justificativa apenas conjecturas e prognósticos;. Na avaliação dele, a detenção foi baseada apenas na palavra de delatores criminosos. O executivo Augusto Mendonça, da empreiteira Toyo Setal, disse que o tesoureiro determinou o depósito de dinheiro na conta de uma gráfica ligada ao PT e que recebeu recursos da Presidência da República. D;Urso nega: ;Não é verdadeira a imputação, pois o senhor Vaccari nada tem a ver com esse delator e com tais depósitos;.
Ele rebateu ainda as suspeitas sobre as movimentações bancárias da mulher do tesoureiro, que recebeu R$ 322 mil de forma fracionada e não identificada. ;Para tudo, há comprovação de origem lícita, pois os valores movimentados nessas contas têm suporte na remuneração, devidamente declarada, auferida pelo senhor Vaccari em suas atividades profissionais;, disse. ;A defesa esclarece que tudo isso poderia ter sido demonstrado se o senhor Vaccari tivesse sido questionado sobre esse tema, evitando-se suspeitas e até a própria prisão.;
D;Urso disse que as ordens de prisão feitas por Sérgio Moro não têm base em fatos, não contam com ;respaldo nas leis brasileiras e sequer há indícios de autoria e materialidade das acusações e suspeitas;. A defesa repetiu que Vaccari não recebeu dinheiro ilegal para abastecer o caixa do partido. ;Ele não recebeu ou pediu qualquer contribuição de origem ilícita destinada ao PT, e todas as doações ocorreram por via bancária, com transparência e com a devida prestação de contas às autoridades competentes.;
Recepção irônica
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Ao lado de faixas e cartazes nas cores verde e amarela, um grupo de manifestantes deu as ;boas-vindas; ao tesoureiro licenciado do PT, João Vaccari Neto, e aos ex-deputados André Vargas (ex-PT), Pedro Corrêa (PP-PE) e Luiz Argôlo (SD-BA). O analista de recursos humanos Cristiano Roger, 38 anos, votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi petista até 2005, no escândalo do mensalão. Ontem à tarde, segurava um megafone e gritava: ;Seja bem-vindo, Vaccari, seja bem-vindo, André Vargas;. Ao lado da professora de história Narli Resende, 57 anos, e do marceneiro Rogério Ferreira, 37, eles elogiaram a Operação Lava-Jato, a PF e o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. ;Curitiba é a capital da moralidade;, disse Roger. Narli queria entregar 12 rosas aos policiais, uma para cada fase da operação.