Politica

Lava-Jato denuncia operador que sumiu com documentos e dinheiro

Guilherme Esteves é suspeito de pagar propinas de estaleiros para o PT. Sua mulher fugiu de casa com um pacote quando a PF tentava fazer buscas

Eduardo Militão
postado em 30/04/2015 11:32
Após sua mulher fugir de casa com um pacote de documentos e dinheiro enquanto a Polícia Federal batia à sua porta, o operador do estaleiro Jurong, Guilherme Esteves de Jesus, foi denunciado à Justiça por embaraçar a investigação. A acusação foi divulgada nesta quinta-feira (30/4) e apresentada ontem à noite à 13; Vara Federal de Curitiba, onde correm os processos da operação Lava-Jato. Esteves é suspeito de pagar propinas que chegaram ao Partido dos Trabalhadores, nas mãos do ex-tesoureiro João Vaccari Neto.

Guilherme Esteves e sua esposa, Lília Loureiro Esteves, foram denunciados por embaraço à investigação de organização criminosa. O Ministério Público pede que ainda paguem uma mula de R$ 100 mil por enganarem policiais que procuravam documentos em sua casa.

Policiais e procuradores suspeitam que Guilherme Esteves foi um dos operadores que pagaram subornos ao ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque e a funcionários da fornecedora de navios Sete Brasil, que pertence a estatal e a sócios privados. De acordo com o ex-gerente da petroleira e ex-diretor da Sete Pedro Barusco, de 0,9% a 1 % dos contratos para construção de navios ; cerca de US$ 720 milhões cada um ; continham propinas, sendo dois terços delas enviadas para o PT, nas de Vaccari. Isso acontecia com vários estaleiros, segundo o ex-funcionário, que fez acordo de delação premiada com os investigadores. O estaleiro Jurong, instalado no Espírito Santo e de propriedade de investidores de Cingapura, tem seis contratos para construção de seis navios para a petroleira por meio da Sete Brasil.

Cachorros soltos

O operador do Jurong está preso desde 27 de março e já foi alvo de duas ações da PF. Na primeira, em 5 de fevereiro, os policiais cumpriam mandado de busca e apreensão de documentos em sua residência, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Sua esposa, Lília, atendeu aos agentes por interfone e atrasou a abertura do portão afirmando que prenderia os cachorros. Mas, na verdade, ela fugia por uma saída lateral com ;um volumoso pacote que continha valores em espécie, documentos e provas úteis; para a investigação de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a denúncia da força-tarefa da Operação Lava-Jato.

A ação de Lília foi filmada. ;Tais fatos são comprovados documentalmente a partir de imagens de vídeo capturadas a partir de câmeras de segurança que funcionavam na residência no dia da busca;, narram os nove procuradores.

Os investigadores acusam o casal de tentar enganar a equipe e policiais federais. ;Lília Loureiro em conjunto com o seu cônjuge Guilherme Esteves de Jesus, aproveitaram o retardamento do ingresso da equipe policial para reunir documentos, dinheiro e objetos que, encontrando-se na residência, seriam apreendidos.;

Os policiais só conseguiram entrar na casa oito minutos depois de serem atendidos por Lília no interfone. Não encontrando a esposa de Guilherme Esteves, os federais o questionaram duas vezes sobre quem estava na residência. Primeiro, disse que só estavam ele e suas duas filhas. Depois, disse não saber onde estava Lília, que teria ficado nervosa ao atender os policiais ao interfone. Sem encontrar a esposa, os agentes questionaram o operador se ela poderia ter saído pelos fundos. Guilherme Esteves disse que não.

Só com as imagens das 11 câmeras externas de segurança da própria residência é que a PF identificou que ela fugiu por uma saída lateral da casa. Antes de sair com o pacote, Lília conversa com Guilherme Esteves, que depois fecha o portão por onde ela deixa a casa.

Os procuradores ressaltam que o operador do Jurong mentiu aos policiais ao dizer que a mulher não poderia ter saído pelos fundos. ;Guilherme Esteves dolosamente enganou os policiais com uma mentira para que eles não inciassem uma perseguição de sua esposa, nas imediações do local das buscas, recuperando os documentos, valores e provas subtraídos;, dizem na denúncia.

Como não se sabe o que continha o pacote, o prejuízo às investigações é de ;proporções incertas; para o Ministério Público.

O estaleiro Jurong e Guilherme Esteves não tem se manifestado nas últimas vezes em que foram procurados pelo Correio.

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