Politica

Gráfica de fachada faturou quase R$ 2 milhões da Câmara dos Deputados

Deputados pagavam em espécie para uma empresa sem máquinas nem funcionários

Eduardo Militão
postado em 10/05/2015 08:10
Sede da Gráfica BSB, que funcionava numa casa localizada em Ceilândia

A maioria dos pagamentos feitos por 143 deputados que contrataram serviços de uma gráfica de fachada com recursos da Câmara era feito em espécie, segundo o proprietário dessa firma, o vendedor Edvaldo Francisco de Oliveira. A Gráfica BSB não tem máquinas, bobinas ou funcionários e estava ;sediada; numa casa simples em Ceilândia, como mostrou o Correio em primeira mão em 12 de abril do ano passado. Mesmo assim, faturou R$ 1,79 milhão entre 2009 e 2014, até fechar as portas, de acordo com registros da Câmara do chamado ;cotão;, verba multiuso que é paga aos parlamentares mediante reembolso. A reportagem procurou deputados da relação de clientes, mas nenhum informou a forma de pagamento. Os maiores fregueses foram o ex-governador Carlos Bezerra (PMDB-MT), com gastos de R$ 392 mil, o deputado Padre João (PT-MG) e o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) (leia quadro ao lado).

Quatro meses após a reportagem, a Receita abriu uma investigação e encontrou indícios de que os serviços não foram prestados. No mês passado, cancelou o CNPJ da gráfica e encaminhou representação ao Ministério Público por falsidade ideológica. Em depoimento, Edvaldo diz que ficava com 30% do dinheiro e terceirizava os serviços a uma outra pessoa, identificada apenas como ;Zezito;.

Apesar do alto faturamento, o patrimônio de Edvaldo se limita a dois bens financiados, segundo o Correio apurou: uma casa no P Norte, em Ceilândia, e um carro avaliado em cerca de R$ 30 mil. Essa discrepância entre o patrimônio e o valor das receitas chamou a atenção dos investigadores. A movimentação financeira da empresa não é compatível com os valores das notas fiscais emitidas. Após ser intimada pela Receita, em agosto passado, a gráfica retificou seu faturamento bruto entre 2009 e 2014, passando de R$ 59 mil para mais de R$ 2 milhões ; além da Câmara, atendeu outros clientes. Doze deputados e ex-deputados são responsáveis por 84% dos repasses para a gráfica de Edivaldo no período. Entretanto, ao contrário da suspeita da Receita, alguns afirmaram que os serviços foram prestados. A assessoria de Padre João disse que a empresa ;sempre cumpria o ajustado;. Nenhum admitiu ter relações com o dono da gráfica.

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