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Paulo Roberto diz que Dilma e Mantega usavam "boné do governo" na Petrobras

Em depoimento à Polícia Federal, o homem-bomba diz que a presidente Dilma e o ex-ministro prejudicaram a Petrobras ao não separar o "chapéu" do Planalto a estatal

Eduardo Militão
postado em 15/05/2015 15:18
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O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse à Polícia Federal que a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega prejudicaram a estatal quando presidiram o Conselho de Administração da petroleira. Segundo disse em delação premiada gravada em vídeo em 11 de setembro passado, os dois agiam contra os interesses da empresa para beneficiar o governo. ;O pessoal não consegue separar o chapéu de empresa do chapéu de governo;, afirmou Paulo Roberto, de acordo com as imagens que integram os autos dos inquéritos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). ;É uma relação muito complexa. É tirar o boné de governo e se colocar o boné de empresa;, comentou.

Paulo Roberto:
Ele disse que o Conselho de Administração é um órgão político e omisso que contraria os interesses da própria estatal por nunca questionar os desejos do Poder Executivo. ;Hoje, o conselho da Petrobras é inócuo;, continuou Paulo Roberto Costa, diante do delegado Eduardo Mauat e do procurador Roberson Pozzobom, em uma sala da superintendência da PF em Curitiba, semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais. ;Hoje funciona como maria vai com as outras. Concorda com tudo. Ninguém discorda do ministro da Fazenda".



Para exemplificar a intromissão que julga indevida na estatal, Paulo Roberto mencionou o aumento da gasolina, pretendido pela estatal, mas barrado pelo governo de Dilma a fim de não pressionar os índices de inflação durante seu primeiro mandato. O ex-diretor fez o pedido cinco vezes, sugerindo elevação gradual dos preços, para não causar prejuízos à petroleira.

[SAIBAMAIS]Paulo Roberto disse que, na última vez em que tentou emplacar a proposta, tinha o apoio do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, mas ambos foram repreendidos por Mantega na reunião do conselho. ;Ele falou: ;Paulo, você é um cara muito chato: vou mandar você e Gabrielli ; isso é fato ; para a China;, contou. O ex-diretor diz que Gabrielli perguntou o motivo da escolha do país asiático. ;Porque lá ninguém reclama;, teria respondido Mantega, de acordo com o relato de Paulo Roberto aos policiais e procuradores da Lava-Jato. O ex-gerentes da Petrobras Venina Velosa e Fernando Sá disseram que foram removidos para Cingapura, no sudeste asiático, porque fizeram denúncias de irregularidades na administração da estatal.

Mauat questionou a Paulo Roberto qual foi o comportamento de Dilma no conselho entre 2003 e 2009. ;Foi a mesma coisa que o Guido Mantega;, respondeu o delator. ;A posição dela era sempre... o pessoal não consegue separar o chapéu de empresa do chapéu de governo. É muito difícil essa relação.; O ex-diretor voltou a citar Mantega e os pedidos de reajustes de preços. ;Uma vez ele me disse o seguinte: ;Paulo, você é contra o Brasil?;. Eu falei: ;Não sou contra o Brasil, sou a favor da Petrobras, estou aqui como diretor, não sou ministro do Brasil;".

Os demais diretores, mesmo os ligados ao empresariado, também eram omissos e ;inócuos;, segundo o ex-diretor. Ele mencionou os ex-conselheiros Jorge Gerdau e Sérgio Quintela. ;Eles se sentem retraídos em termos de opinar, coisas que o presidente do conselho traga;, disse. ;O próprio Gerdau tem ;ene; interesses com o governo: ele vai criar caso com o ministro da Fazenda?;. Ele ainda disse o sistema de auditorias da Petrobras pode sofrer ;ingerência política; e deveria ser mais ;rigoroso;.

O Palácio do Planalto e a Petrobras disseram ao Correio que não comentariam as declarações de Paulo Roberto Costa. O ex-ministro Guido Mantega foi procurado por meio de ex-secretária, mas ela não retornou os recados deixados em seu telefone. Jorge Gerdau não foi localizado na empresa: o único funcionário disse ontem por volta de 18h que o expediente só reiniciaria hoje às 7h30. A reportagem não localizou Sérgio Quintella e José Sérgio Gabrielli.

Bloqueio de R$ 550 milhões
O Ministério Público Federal anunciou ontem que a Justiça determinou o bloqueio de R$ 241.541.922,12 da construtora Camargo Corrêa e da empresa Sanko Sider e outros R$ 302.560.926,48 da Galvão Engenharia, segundo o portal G1. As três empresas são citadas em processos da Operação Lava-Jato. A decisão foi tomada por uma vara cível em Curitiba, em que tramitam alguns dos processos da Lava-Jato. Somado com outras quantias retidas em abril, como os R$ 153 milhões da Engevix, o valor do bloqueio das contas de construtoras chega a R$ 697 milhões.

;Hoje funciona como maria vai com as outras. Ninguém discorda do ministro da Fazenda;
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras

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