O ex-senador pelo Distrito Federal e presidente do PTB-DF, Gim Argello, está entre os citados pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC, nos termos de seu acordo de delação premiada. Segundo fontes com acesso às investigações, o empresário citou Gim como um dos políticos beneficiados pelo pagamento de propina. Para os investigadores da Lava-Jato, Pessoa atuaria como uma espécie de ;coordenador; do clube de empreiteiras que se organizavam para fraudar e superfaturar obras na Petrobras, mediante o pagamento de propina a políticos e ex-dirigentes da empresa estatal.
O vazamento de informações e nomes da delação de Pessoa vêm tirando o sono de políticos desde a última quarta-feira, quando ele esteve em Brasília para assinar o acordo com o Ministério Público. Na delação premiada, Pessoa relacionou ainda como beneficiários do esquema o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto; o ex-ministro Edison Lobão (PMDB), e a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney. Também teria revelado o nome de cinco parlamentares federais e de uma autoridade militar, além de um parente de um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). As informações são do jornal O Globo. Fora da Lava-Jato, Gim já é alvo de pelo menos seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), embora nenhuma delas tenha se tornado uma ação penal.
Nos termos de sua delação, Pessoa teria citado ainda o atual governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), como um dos beneficiados pelo esquema criminoso nas eleições de 2014. O sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registra duas doações oficiais da UTC ao diretório estadual do PMDB de Alagoas, de R$ 500 mil cada, em agosto e setembro passados. Tanto ele quanto o pai, o presidente do Senado, Renan Calheiros, negam qualquer irregularidade.
As informações prestadas por Pessoa tramitam em segredo de Justiça e ainda não foram compartilhadas com a CPI da Petrobras, instalada na Câmara. ;À medida em que ele for falando e essas informações forem surgindo, isso será de grande importância para nós (na CPI da Petrobras). Terá consequência no trabalho da CPI, até pela posição que ele ocupava dentro do esquema;, disse o vice-presidente do colegiado, deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA). A CPI aprovou a convocação de Pessoa, para que ele preste depoimento, em meados de abril. O depoimento do empreiteiro na CPI está marcado para 1; de junho.
Empreiteiros
A partir dessa semana, a CPI da Petrobras passará a ouvir depoimentos de empreiteiros investigados na Lava-Jato. Amanhã, os primeiros a serem ouvidos serão Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e Erton Medeiros Fonseca, diretor da Galvão Engenharia. Na reunião seguinte, na quinta, será a vez de Gerson de Mello Almada, da Engevix, e de Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa.
Procurado, Gim Argello não retornou os contatos da reportagem. O advogado de Pessoa, Alberto Toron, se disse impedido de comentar a delação premiada do cliente. Não foi possível contatar Lobão, Roseana Sarney nem a defesa de João Vaccari Neto, que se encontra preso nas dependências da Polícia Federal em Curitiba.
Deputado distrital por dois mandatos, Gim foi candidato nas últimas eleições à vaga do Distrito Federal no Senado, mas perdeu. Ele obteve 271 mil votos, ficando em 2; lugar na disputa. Em sua passagem pelo Senado, entre 2007 e fevereiro deste ano, foi um dos principais articuladores da base aliada do governo de Lula e, depois, do primeiro mandato de Dilma. A presidente, aliás, chegou a apoiar o nome de Gim quando ele foi apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma vaga no Tribunal de Contas da União, em abril passado.