Sem fechar acordo de delação premiada, o empreiteiro Gérson Almada, um dos donos da Engevix, investigada na Operação Lava-Jato, confirmou a existência de reuniões em que as construtoras combinavam repartir obras da Petrobras antes das concorrências acontecerem. Além disso, Almada diz que executivos da Odebrecht e da Queiroz Galvão também eram responsáveis, junto com a UTC, por promover encontros do grupo. ;A maioria dessas reuniões eram promovida por iniciativa dos Márcio Farias (Odebrecht), Ricardo Pessoa (UTC) e Othon Zanoide (QG), aos quais acredita que competia compilar as decisões travadas no curso dessas reuniões a fim de que fossem implementadas;, afirmou ele.
;O ajuste a partir das planilhas era no sentido de que haveria uma proposta menor por parte da empresa ou consórcio designado para ganhar o contrato, sendo as demais propostas de apoio, ou seja, a fim de compor a concorrência.; Apesar disso, Almada não considerar correto usar o termo ;cartel;, mencionado pelos executivos Augusto Mendonça, da Setal, e Dalton Avancini, da Camargo Corrêa. Ao contrário do vice-presidente da Engevix, os dois fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público. Em troca de confissões, documentos, revelação sobre outros participantes do esquema e pagamento de multas, eles devem ter suas condenações criminais reduzidas.
Almada diz que passou a ser convidado para as reuniões em 2007. No entanto, percebeu que as grandes empreiteiras, como Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS e UTC ;já vinham previamente concertadas em relação a grandes obras, formando consórcios;.
[SAIBAMAIS]Notas
Segundo o empreiteiro da Engevix, nos encontros cada empresa dava uma nota de 1 a 3, de acordo com a prioridade de interesse que tinha para cada obra. ;Diante do empate quanto a preferência por determinado pacote, a questão era resolvida mediante discussão apartada entre os interessados;, narrou Almada. E se não houve acordo mesmo assim? ;Quando não havia consenso, as empresas eram liberadas para disputarem entre si;, respondeu o empreiteiro.
Ao final dos encontros, cada empresa copiava as planilhas que dividiam as obras entre elas. Por isso, Almada esclareceu à PF o que significavam documentos apreendidos em seus endereços. Ele listou divisão de obras em vários empreendimentos da Petrobras, como as refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, Comperj, no Rio de Janeiro, Repar, no Paraná, Reduc, em Duque de Caxias (RJ), e Replan, em Paulínea (SP).
Em cada contrato, a Engevix embutia de 0,5% a 1% para pagar os serviços de duas pessoas. O lobista Milton Pascowitch recebia nos negócios envolvendo a Diretoria de Serviços, que foi comandada por Renato Duque, ligado ao PT. O doleiro Alberto Youssef, naqueles que envolviam a Diretoria de Abastecimento, antes dirigida por Paulo Roberto Costa, ligado ao PP. Almada disse que os valores a Pascowith se referiam a lobby, e não propina, ;embora presumisse que isso pudesse estar ocorrendo;. Para Youssef, o objetivo era não ter problemas com a Petrobras.
O depoimento de Almada sobre as empreiteiras foi prestado ao delegado Eduardo Mauat da Silva em 24 de março, mas até hoje não havia sido revelado.
Sem resposta
O Correio perguntou a todas as empresas citadas sobre a existência das reuniões e o teor das conversas. Nenhuma respondeu objetivamente a essa questões. Entre as empreiteiras que se pronunciaram, todas negaram combinação de resultados nas concorrências. A Odebrecht disse que ; não participa e nunca participou de nenhum tipo de cartel;. ;Todos os contratos que mantém, há décadas, com a Petrobras, foram obtidos por meio de processos de seleção e concorrência que seguiram a legislação vigente.; A Queiroz Galvão negou ;veementemente práticas anticoncorrenciais;, assim como a OAS, e reafirmou seguir a legislação. ;A OAS exerce suas atividades com integridade, pautada pela conduta ética;, continuou a empresa.
A Camargo Corrêa não prestou esclarecimentos. A UTC e a Engevix afirmaram que não comentariam o assunto. ;A Engevix está prestando os devidos esclarecimentos à Justiça.;