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Politica

Intervenção de ex-presidente Lula no Congresso isola Dilma do PT

Analistas políticos acreditam que Lula tem deixado claro que, mais do que nunca, Dilma precisa dele

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Com a presidente Dilma Rousseff em viagem oficial aos Estados Unidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta segunda-feira (29/6) em Brasília para tomar as rédeas da bancada do PT no Congresso Nacional. A presença do antecessor, no entanto, não significa um movimento de pacificação entre os dois. O vazamento da lista de citados pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC, como beneficiários das doações da empreiteira investigada na Operação Lava-Jato reforça o ostracismo vivido por Dilma e joga por terra todos os esforços recentes feitos por ela para tentar melhorar a governabilidade. A presidente já esteve frágil politicamente, foi apontada como isolada e agora corre o risco concreto de ficar refém de si mesma à espera das eleições de 2018 devido às rusgas com o padrinho político. Para especialistas, a presença de Lula em Brasília reforça ainda mais essa tendência.

[SAIBAMAIS]O discurso de Lula tem incomodado muito o Planalto. Embora o ex-presidente garanta que não há movimento de ruptura, as intervenções recentes lulistas têm provocado estrago. Na última segunda-feira, no mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff anunciava quase R$ 30 bilhões para a agricultura familiar, Lula pregou a reinvenção do PT. ;Era uma agenda positiva nossa e Dilma teve que responder sobre os ataques de Lula e provar que estava viva;, disse um assessor presidencial, em referência aos boatos de que a presidente teria tentado o suicídio no domingo retrasado. Para acentuar a divisão, a executiva nacional do PT, seguindo recomendação de Lula, decidiu convidar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a explicar a atuação da Polícia Federal durante a Operação Lava-Jato.


Para analistas políticos, o ex-presidente tem deixado claro que, mais do que nunca, Dilma precisa dele. Por isso, pede para ser blindado na Operação Lava-Jato. ;Se Lula for preso, o governo Dilma cai no dia seguinte. O ex-presidente é o que resta de credibilidade para ela;, completou o interlocutor. Para piorar, os senadores petistas saíram em defesa de Lula ao longo da semana ; algo que Dilma não fez ; nem sequer mencionaram a presidente em uma nota oficial da bancada. Nas votações no plenário, os deputados petistas também já demonstraram distanciamento do Planalto. Dilma parece alheia a esses riscos. ;Não sei dizer se, consciente ou inconsciente, mas a presidente passa a impressão de ter cruzado os braços para tudo, até mesmo para a própria popularidade;, disse a cientista política e professora de relações internacionais do Ibmec/RJ Christiane Romeo.

Talvez porque a vida de Dilma não esteja fácil para nenhum dos lados em que ela resolver analisar. Apesar de as recentes manifestações de rua terem sido menos barulhentas e movimentadas que as realizadas no início de 2015, a recente pesquisa Datafolha foi desastrosa para a presidente: apenas 10% de popularidade, um massacre independentemente da região ou da faixa social dos entrevistados. Há quem diga que o Datafolha foi até generoso, já que alguns petistas informaram ao Correio que a presidente tem uma aprovação de cerca de 7%, em média. Se perdeu o apoio popular, no meio empresarial Dilma também não é bem quista. Os empresários não conseguem enxergar na comandante do Executivo alguém capaz de mudar os rumos da economia brasileira. O fio de credibilidade está amarrado no ministro da Fazenda, Joaquim Levy. E o quadro tende a se agravar cada vez mais. A inflação já foi projetada para 9%, os juros estão em ascensão, a recessão se aprofunda e o desemprego vai aumentar.

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