Pelo quarto dia consecutivo, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), protagonizaram um bate-boca político e público. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aderiu ao confronto. Da Rússia, Dilma criticou o tucano, que a acusara de querer passar por cima das instituições, numa alusão ao julgamento dos gastos do governo que será feito no Tribunal de Contas da União (TCU). ;Quem coloca como já tendo havido uma decisão provoca um desserviço para o TCU e para o TSE, porque não há nenhuma garantia que qualquer senador de República, muito menos o senador Aécio Neves, possa prejulgar quem quer que seja ou definir o que uma instituição vai fazer ou não;, disse a presidente.
Dilma foi ainda mais incisiva, recorrendo ao debate sobre golpe, tão em voga nos embates atuais entre governo e oposição. ;A gente não fica discutindo quem é ou quem não é golpista. Quem é golpista mostra na prática as tentativas, que começam por isso: prejulgar uma instituição;, atacou a presidente.
No Senado, Aécio resolveu dar o troco. O senador desafiou a presidente a demonstrar quando ele teve alguma atitude golpista ao defender as investigações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do TCU que podem, em caso de condenação, retirá-la do cargo. ;Desafio a presidente da República a demonstrar em que instante, eu, como presidente do PSDB, dei qualquer declaração de desrespeito à Constituição e à soberania das instituições;, cobrou Aécio.
Para o tucano, a petista cria um factoide de algo que não é real. ;É absolutamente inacreditável a desconexão da presidente Dilma com a realidade;, afirmou ele. ;Não permitiremos é que instituições de Estado sejam constrangidas por ação do governo;, reforçou ele, lembrando que o PSDB jamais adiantou o resultado do julgamento do TCU. Ele disse que o governo terá a oportunidade de se defender tanto no TSE quanto no TCU, mas ressaltou que ninguém, nem a presidente da República, está acima das instituições.
;Dilma deveria falar que errou, fracassou e falhou na condução de uma série de questões, como o controle da inflação e do desemprego. Isso não é obra da oposição, a oposição não é golpista;, rebateu. ;Quero repelir, de forma mais veemente, as insinuações da presidente da República.; E aconselhou: ;Economize as suas energias com a oposição. Concentre suas forças e energias para se defender sobre as inúmeras denúncias que recaem sobre Vossa Excelência e seu partido;, sugeriu.
ParecerNa última terça-feira, logo após entrevista de Dilma à Folha de S.Paulo, Aécio disse que a presidente queria passar por cima das instituições ao afirmar que as chamadas ;pedaladas fiscais; em julgamento no TCU aconteceram sempre, nos governos anteriores. ;Em momento algum da minha entrevista eu passei por cima das instituições. Nem o TCU ainda deu um parecer definitivo sobre minhas contas. Eles abriram a oportunidade de nos explicarmos, e vamos explicar bem explicado e a mesma coisa ao TSE (que analisará as denúncias de financiamento ilegal na campanha de 2014);, declarou a presidente.
O ex-presidente Lula também resolveu entrar na disputa. ;O tempo do golpismo passou para nunca mais;, declarou o petista, lembrando que o país vive o período de maior solidez democrática desde a Proclamação da República. ;O acúmulo das lutas do povo brasileiro forjou as bases de um país mais rico, menos desigual e consciente de seu potencial. Por isso, não há espaço para retrocesso;, concluiu o ex-presidente.
A postura mais incisiva de Dilma tem dividido opiniões. ;Deveríamos parar de bater boca com a oposição, isso só dá holofotes para eles. Deixa o Lula falar o que ele quiser. A presidente já deu o seu recado na entrevista e deveria aproveitar para virar a página dessa história;, disse um interlocutor governista.
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