O lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava-Jato, declarou à Justiça Federal que o suposto operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, disse que estava sendo pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, para pagamento de propina. Os valores da propina teriam saído de compras de navios-sonda. Segundo relato de Julio Camargo, o peemedebista exigia US$ 5 milhões.
"Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar no Leblon, Rio). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando e que ele era merecedor de 5 milhões de dólares", afirmou Camargo. "E isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, se não me engano uma campanha municipal e que ele tinha uma série de compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e ele não tinha mais condição de aguardar."
Eduardo Cunha é alvo de investigação da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Um inquérito foi aberto para investigar o suposto envolvimento do deputado na Lava-Jato.
O delator Julio Camargo depôs em uma das ações penais em curso na 1; instância da Justiça Federal no Paraná. Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal como testemunha de acusação em processo contra o operador do PMDB Fernando Baiano, ligado a Cunha.
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"Julio, realmente nós estamos com um problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive, pelo deputado Eduardo Cunha", disse Julio Camargo, atribuindo a frase a Fernando Baiano. Ainda segundo o lobista, Fernando Baiano disse a ele: "Isso aí vai chegar numa situação muita embaraçosa para mim, mas para você, com certeza vai ser muito mais embaraçosa".
Julio Camargo depôs nesta quinta-feira (16/7), em Curitiba, na Justiça Federal em uma das ações da Lava Jato. Ele disse que respondeu a Fernando Baiano: "Eu falei, bom, eu estaria à disposição para conversar com o deputado Eduardo Cunha explicar o que está acontecendo. Ele falou: Julio, ele não quer conversar com você. Ele quer receber."
O lobista afirmou que se reuniu pessoalmente com o então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) na Base Aérea Santos Dumont, no Rio. Julio Camargo diz que exibiu a Lobão cópia de um requerimento de informações da Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Eduardo Cunha - o documento pedia informações sobre contratos da Mitsui, da qual Julio Camargo era representante, com a Petrobras.
"O sr. citou que o parlamentar era uma pessoa agressiva", indagaram a Julio Camargo. "Agressivo não no tipo físico. Diria mais sob o ponto de vista verbal, uma pessoa que tenta constrangê-lo, lhe colocar a corda no pescoço, no sentido de possuir as ideias".
Outro delator da Lava-Jato, o doleiro Alberto Youssef, já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos "destinatários finais" de em contratos de navios-sonda da Petrobras investigados pela Lava Jato.
Em sua versão, em maio de 2015, o doleiro declarou que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. Ele disse que foi procurado pelo lobista Julio Camargo após estes requerimentos.
"Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados" relatou.
Resposta
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), divulgou nota hoje na qual nega as declarações dadas pelo lobista Julio Camargo. "Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las", diz em texto publicado em sua página no Facebook.
Na nota, Cunha diz que o delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a ele. "Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurador-Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso", afirma Cunha.
O presidente da Câmara considera estranho que, às vésperas da eleição do Procurador-Geral da República e do pronunciamento que fará em rede nacional, as "ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador-Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir".