Agência Estado
postado em 23/07/2015 20:32
Um laudo contábil-financeiro elaborado por peritos criminais da Polícia Federal revela que entre 2003 e 2014 foram movimentados R$ 220 milhões, em valores brutos, na contas de Mário Góes - apontado como operador de propinas na Diretoria de Serviços da Petrobras. Góes está preso em Curitiba, base da investigação da Operação Lava Jato, desde fevereiro.Análise preliminar dos peritos indicou que a movimentação financeira nas contas de Mário Góes e de empresas ligadas a ele (Riomarine Oil e Gás Engenharia e Empreendimentos LTDA e Mago Consultoria S/C LTDA), se acentuou a partir do biênio 2008/2009. Investigadores da Lava Jato suspeitam que a Riomarine é uma empresa de fachada, usada para ;esquentar; dinheiro de propina em contratos frios de consultoria.
Outro ponto que chamou a atenção da PF foi "um porcentual elevado de saques realizados em espécie diretamente pelo caixa do banco e que totalizam valores da ordem de R$ 70 milhões". "Tal prática é corriqueiramente aplicada em operações voltadas a ocultar ou dissimular os reais beneficiários dos recursos sacados, sobretudo em situações que envolvam o pagamento de vantagens indevidas", diz o laudo. "Importante salientar que a realização de saques em espécie dificulta, e até inviabiliza, a adequada identificação dos reais beneficiários dos recursos sacados. Entretanto, o que chama a atenção é a realização de saques de elevadas quantias diretamente na ;boca; do caixa, onde se exemplificam os saques realizados nas contas investigadas, considerando o valor de corte de R$ 300 mil."
Os peritos identificaram também que ;empresas e consórcios ligados aos Grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez efetuaram transferências de recursos a crédito da Riomarine Oil e Gás Engenharia e Empreendimentos LTDA; em um total de R$6.447.160,96 entre 2004 e 2009.
"Com base no material submetido a exames, constatou-se que Mario Frederico de Mendonça Goes é apontado como operador do pagamento de propinas decorrentes de contratos cartelizados firmados entre as empresas/consórcios do Grupo Odebrecht e Andrade Gutierrez. Tais pagamentos teriam sido realizados por meio de contratos fictícios de serviços de consultoria firmados entre as citadas empresas/consórcios e a Riomarine Oil e Gas e Empreendimentos LTDA", sustenta o laudo.
Segundo o documento, nos documentos apreendidos na sede da Riomarine foram encontrados diversos contratos de prestação de serviços de consultoria. Para a PF, os contratos ;possuem correspondência fática com a movimentação financeira analisada, revelando a existência de depósitos oriundos das empresas/consórcios formados pelo Grupo Odebrecht e Andrade Gutierrez e que possuem correlação temporal com contratos firmados entre as citadas empresas/consórcios e a Petrobras;.
"A análise empreendida nos documentos juntados aos autos pela empresa Andrade Gutierrez, supostamente comprobatórios das relações comerciais mantidas com a empresa Riomarine Oil e Gás Engenharia e Empreendimentos LTDA, possibilitou constatar que tais documentos não são hábeis para comprovar a efetiva prestação de serviços de consultoria nos anos de 2007 e 2008, revelando que os pagamentos listados na tabela 05 foram realizados sem lastro fático e documental adequado", diz o laudo pericial.
A Odebrecht e a Andrade Gutierrez negam envolvimento no cartel de empreiteiras que se instalou na Petrobras. As duas empresas, cujos presidentes foram presos na Operação Erga Omnes, 14.; capítulo da Lava Jato, afirmam que nunca pagaram propinas.