Politica

Pedro Simon defende pacto nacional contra crise: "Faltou grandeza a Cunha"

Ex-senador afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, que o presidente da Câmara perdeu uma oportunidade política ao desistir de implementar uma agenda de reformas

Paulo de Tarso Lyra
postado em 26/07/2015 07:00

Ex-senador afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, que o presidente da Câmara perdeu uma oportunidade política ao desistir de implementar uma agenda de reformas


Pedro Simon pode até estar sem mandato, mas a argúcia de quem tem 60 anos de vida pública faz com que esse gaúcho ainda seja um analista precioso do atual momento vivido pelo país. Ele está preocupado. ;Estamos vivendo uma experiência que ainda não tínhamos vivido. É mais difícil do que o período vivido no auge da ditadura;, afirmou, acrescentando que, durante o regime militar, as oposições sabiam o que fazer: lutar pela democracia. ;Tem um Congresso funcionando, tem um presidente eleito. Mas nós não sabemos o que fazer;.

Simon afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, perdeu uma oportunidade política ao desistir de implementar uma agenda de reformas na Câmara e optar por fazer as coisas de seu interesse pessoal. ;Foi um erro infeliz dele, um erro dramático. Podia fazer uma grande jogada e cometeu uma tolice. Agora, resolveu romper (com a Dilma).;

O ex-senador acredita que o Judiciário vive uma fase épica e elogia o juiz Sérgio Moro. ;Ele é uma das figuras mais extraordinárias que apareceram neste século 21 no Brasil;. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Após tanto tempo de vida política, qual a avaliação da atual crise?
Nós já tivemos todo tipo de crise, mas estamos vivendo uma experiência que ainda não tínhamos vivido. É uma situação complexa, com várias origens, vários focos. É mais difícil do que o período vivido no auge da ditadura.
[SAIBAMAIS]
Por quê?

No auge da ditadura, nós não tínhamos direito nenhum, mas tínhamos uma razão para lutar: derrubar a ditadura e retomar a democracia. Estava clara a situação, não tínhamos nenhuma dúvida. No momento em que o MDB conseguiu reunir as oposições em torno das Diretas Já, nós caminhamos. Muita gente chamava a gente de louco, de ridículo, esse MDB lutando contra um regime ao qual a Igreja, a grande imprensa, os empresários e os americanos apoiavam. Foi uma luta, mas nós tínhamos um caminho. Tanto que deu certo.

E hoje, como está a situação?

Está ruim. Tem um Congresso funcionando, tem uma presidente eleita. É certo que não há perigo de golpe. Os militares estão em uma posição neutral, que eles fazem muito bem. Mas nós não sabemos o que fazer.

Falta alguém com lucidez para se pensar em saídas para crise?

No momento de auge da luta contra a repressão, nós tínhamos pessoas lúcidas. Tínhamos Ulysses (Gumarães), Brizola, Tancredo, Teotônio (Vilela), (Franco)Montoro, Lula, a área progressista da Igreja, várias pessoas que integravam esse movimento. Se for olhar agora, não tem ninguém. Não tem um partido que consiga encontrar uma saída para o Brasil. Temos bons governadores, jovens, mas nenhum tem uma liderança.

E no Congresso?
Quem se destaca são os presidentes da Câmara (Eduardo Cunha) e do Senado (Renan Calheiros), pelos cargos que eles ocupam. Mas são políticos que têm problemas pessoais, idissioncracias pessoais. Parecia que, em um determinado momento, o presidente da Câmara exerceria um papel de fazer um parlamento forte, fazer as reformas, mas faltou grandeza para ele.

Cunha é acusado de atropelar o regimento interno, impor uma pauta conservadora à Câmara e, agora, rompeu com a presidente. Qual sua avaliação sobre ele?

Ele é um homem de uma competência fantástica. Para o bem ou para o mal, não quero discutir. Estou na política há 60 anos e não me lembro de nenhum momento em que o Congresso tenha tido um poder de decisão, escolher a pauta. Ele deveria aproveitar isso, mas não como presidente da Câmara. Esse é o grande equívoco dele. Ele quis fazer as coisas do interesse dele, pessoal, colocar as matérias para prejudicar o Executivo. Foi um erro infeliz dele, um erro dramático. Ele estava no auge dele, podia fazer uma grande jogada e cometeu uma tolice. Agora, resolveu romper. Bem fez o presidente Michel Temer, que falou que ele (Cunha) fala por si só, não pelo partido.

Falta humildade ou traquejo político para a Dilma?

Falta traquejo e faltam condições. Quando assumiu o primeiro mandato, a Dilma demitiu seis ministros por corrupção. Mas o que aconteceu? Começou a aparecer o Volta Lula, o sai Dilma, ela foi para o lado de lá e as coisas foram ladeira abaixo. Eu vejo agora esta história do Lula querendo chamar o Fernando Henrique Cardoso para falar sobre a crise.

O que o senhor acha disso?
A rigor, os dois são culpados. Fernando Henrique foi responsável pela maldita emenda da reeleição que detonou isso que está acontecendo. Mas acho positivo fazer reunião. Vamos fazer um entendimento. Não para esconder o que aconteceu. Tem muita gente que está querendo sair deste momento. O que pode ser feito deve ser feito.

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