A péssima fase do governo federal é tamanha que até mesmo agendas positivas dão errado e obrigam o Planalto a apagar incêndios provocados por ele próprio. Três dias depois de confirmar um encontro com todos os governadores para discutir saídas para a crise econômica, a presidente Dilma Rousseff deve ser obrigada a fazer uma reunião menor, com a presença apenas dos aliados do Nordeste. Irritados com a possibilidade de serem usados como discurso em prol da governabilidade e como uma defesa às pedaladas fiscais, chefes do Executivo estadual, como Geraldo Alckmin (São Paulo), ameaçam boicotar o encontro.
No mesmo instante em que ministros palacianos davam uma entrevista sobre a reunião da coordenação política, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), ironizava o governo na sede do partido em Brasília, dizendo que o Planalto consegue agir melhor para atrapalhar a si próprio do que a oposição. ;É um discurso completamente contraditório. Se o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, afirma esperar um julgamento técnico, por que pedir apoio político aos governadores? Isso não faz o menor sentido;, cobrou ele.
Aécio repetiu que o governo cometeu um crime que fere a Lei de Responsabilidade Fiscal e que não é certo querer que os governadores deem guarida a isso. ;Participar de reuniões administrativas sobre a pauta comum de interesse da União e dos estados é algo mais do que natural, eu mesmo participei de diversas quando era governador de Minas e Lula era presidente. É algo absolutamente republicano. Mas não queiram envolver a oposição em outras questões. Como disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não devemos salvar o que não deve ser salvo;, resumiu Aécio.
O assunto também apareceu na reunião de coordenação política de manhã. Marcada com o objetivo de afinar a agenda para o evento marcado originalmente para a próxima quinta-feira, enfatizando os projetos de repatriação de recursos do exterior e de unificação da alíquota de ICMS, o encontro acabou criando uma saia justa. Um dos ministros presentes confirmou que já recebera sinais de governadores, especialmente os da oposição, dizendo que não concordavam em participar de uma foto ;para melhorar a imagem da presidente Dilma Rousseff;.
Avaliação
Geraldo Alckmin aproveitará um evento hoje em São Paulo com a presença de produtores avícolas para organizar um almoço com governadores, provavelmente das regiões Sul e Sudeste. A ideia é discutir um pouco a situação econômica do país. Oficialmente, ainda não há sinais de que Alckmin boicotará um eventual encontro de governadores na próxima quinta-feira. Mas um dos tucanos mais próximos a ele, o secretário de Transportes de São Paulo, Duarte Nogueira, deu a tônica do que o PSDB espera da reunião. ;Nossa expectativa é uma discussão madura para que possamos sair da armadilha da falta de investimentos. Não esperamos que a presidente Dilma peça nossa ajuda para resolver um problema do qual ela tem todas as condições de sair sozinha;, completou Nogueira.
Mais cedo, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, admitiu que exista uma coincidência de interesses entre o Palácio do Planalto e os 27 governadores. ;Eles fizeram reuniões regionais para trazer ao governo central a preocupação com a governabilidade. Essa é a preocupação principal do Poder Executivo, então há uma coincidência de interesses;, declarou.
Para ele, a reunião é bastante oportuna e supera qualquer tipo de divergência partidária. ;O tema é de interesse da nação, que deseja ver o Brasil andar novamente no sentido do crescimento, aumento na geração de emprego, renda, redução das dificuldades da população. Tudo isso está acima de qualquer diferença entre partidos;, observou.
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