Agência Estado
postado em 07/08/2015 11:57
Rastreamento da Polícia Federal na Operação Pixuleco, 17.; capítulo da Lava-Jato que prendeu José Dirceu, revela que a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro-chefe da Casa Civil (Governo Lula), pagou R$ 1,161 milhão para a Unicon Serviços Contábeis Ltda, da qual é sócio o deputado estadual Enio Tatto (PT), primeiro secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de São Paulo. Os repasses ocorreram entre janeiro de 2009 e dezembro de 2014 - período em que Dirceu foi processado, condenado e preso no Mensalão por corrupção ativa.[SAIBAMAIS]Os documentos que mostram as relações da JD com a Unicon foram anexados pela Polícia Federal nos autos da Pixuleco, que prendeu também Roberto Marques, o Bob, braço direito de Dirceu. Bob é funcionário efetivo da Assembleia paulista desde 28 de maio de 1986. Trabalhou na Liderança do PT. Desde 15 de março de 2003 está lotado no Gabinete da 1.; Secretaria, que o deputado Enio Tatto assumiu há dois anos e meio.
A PF esmiuça todos os negócios da JD porque suspeita que a empresa do ex-ministro, já desativada, foi usada para captar propinas do esquema de corrupção na Petrobras por meio de consultorias fictícias. Em oito anos a JD faturou R$ 39 milhões. A PF trabalha com a hipótese de que parte dessa receita teve origem em pagamentos ilícitos de empreiteiras que teriam sido beneficiadas em contratos com a Petrobras.
Os investigadores dizem que pelo menos R$ 21,3 milhões a JD recebeu por meio de depósitos mensais e ininterruptos de três grupos empresariais. Nos autos da Pixuleco, a Polícia Federal transcreve a constituição da Unicon Serviços Contábeis, de 14 de novembro de 1997, situada na Chácara Santo Antônio, São Paulo, zona sul. O deputado é "um dos sócios da empresa".
Yolanda Tatto, mulher do deputado Enio Tatto, é sócia da Unicon. Ela destaca que a Unicon respondeu pela contabilidade da JD desde a sua fundação. Ela rechaça enfaticamente qualquer suspeita sobre os valores que a Unicon recebeu da empresa de Dirceu. "Nunca recebi propinas. O valor de R$ 1,161 milhão corresponde ao pagamento de honorários contábeis mensais." Ela ressalta ainda que o marido é sócio cotista da Unicon, porque também é contador, mas afirma: "Nos últimos 17 anos ele (Enio Tatto) passou aqui umas cinco vezes para tomar café e foi muito. Nem meu marido nem eu recebemos da Lava-Jato. A Unicon recebeu as mensalidades porque cuidamos da empresa dele (José Dirceu) e da pessoa física dele, além de outros trabalhos que eu desenvolvia, alterações contratuais, certidões negativas, consultoria para a área tributária que ele (ex-ministro) me pedia. Não pagaram para o meu marido, pagaram pelos serviços contábeis que prestei".
Yolanda Tatto anota que a Unicon mantém um quadro de 32 funcionários e uma carteira de 300 clientes.Ela observou que nos últimos meses tem se dedicado a esclarecer ao Ministério Público Federal e à Receita questões relativas às atividades da JD Assessoria. "(JD) tinha, em média, 28 funcionários com INSS e FGTS pagos. Eu respondo pela parte técnica e contábil (da JD)."
Defesa da Unicon Serviços Contábeis
Em nota, Yolanda Tatto diz pela empresa que "a Unicon Serviços Contábeis Ltda. responde pela contabilidade da empresa JD Assessoria e Consultoria Ltda desde sua fundação conforme contrato de prestação de serviços. Diferente do que está sendo divulgado, o valor de R$ 1,161 milhão corresponde ao pagamento de honorários contábeis mensais de janeiro de 2009 a dezembro de 2014, período de 72 (setenta e dois) meses consecutivos contemplados na quebra de sigilo fiscal e bancário. Esse montante corresponde ainda a honorários de alterações contratuais, emissão de certidões negativas e reembolso de taxas todos compatíveis com os valores praticados no mercado. A Unicon Serviços Contábeis Ltda., se solicitada, apresentará às autoridades competentes toda e qualquer documentação que comprove o histórico dos trabalhos realizados e dos valores recebidos e tributados na forma da lei. Esclarecemos que a Unicon atua desde 1997, possui 26 funcionários e seu quadro societário é composto pelo deputado estadual Enio Francisco Tatto, afastado da administração e de qualquer função técnica da empresa desde 2000, e a Sra. Yolanda Nunes Rocha Tatto, contadora e administradora de empresas que exerce a gestão desde sua fundação. Salientamos ainda que o Sr. Jair José Tatto, técnico contábil, retirou-se da sociedade em fevereiro de 2003, não exercendo qualquer atividade ou função na empresa desde então".
Nota da 1.; Secretaria da Assembleia Legislativa de São Paulo
"Roberto Marques é funcionário efetivo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) desde 28/05/1986. Ou seja: ingressou no Legislativo paulista via concurso público para o cargo de Agente Legislativo de Serviços Auxiliares. De lá para cá trabalhou em diversos setores da Alesp e em diferentes cargos. Esteve lotado em Gabinete de Liderança Partidária, no Gabinete da 1; Secretaria, em Gabinete de Deputado e, ainda, na administração interna da Alesp. Entre os cargos que ocupou estão o de Agente Legislativo de Serviços Auxiliares, o de Auxiliar Legislativo de Serviços Operacionais e o de Assessor Especial Parlamentar. Está lotado no Gabinete da 1; Secretaria desde 15/03/2003, há mais de 12 anos. Presentemente responde pelo expediente da 1; Secretaria no que diz respeito à relação institucional da Alesp com órgãos de Estado, onde acompanha proposituras oficiais (Requerimento de Informação, Ofício) formuladas por parlamentares para secretarias e outros setores da administração pública."