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Empreiteira admite contratos de fachada para pagar almirante

A colaboração da empreiteira, alvo da Lava-Jato por atuar no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, ocorre em meio as tratativas para firmar um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União

Agência Estado
postado em 10/08/2015 19:48

A empreiteira Engevix admitiu à Justiça Federal ter utilizado contratos de fachada com a empresa Link Projetos e Participações para fazer repasses à Aratec, do ex-presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, que pediu demissão após ser preso na 16; fase da Lava-Jato, a Operação Radioatividade.

A colaboração da empreiteira, alvo da Lava-Jato por atuar no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, ocorre em meio as tratativas para firmar um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União (CGU).

De acordo com a Engevix, os pagamentos para o almirante via Link não tinham relação com as obras de Angra 3, sob investigação na Lava-Jato, mas sim com um projeto de desenvolvimento de turbinas hidráulicas de geração de energia da empresa de Othon, a Hydrel Energia Sustentável.

"Com respeito aos pagamentos para ajudar no desenvolvimento das turbinas, esclareço que a pedido do próprio almirante, foram feitos para Aratec através da Link, que para isso cobrou uma taxa e impostos, mas realmente ela não teve qualquer participação ou conhecimento da questão.", diz o e-mail de um executivo da empresa encaminhado à Justiça Federal no Paraná.

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A Engevix não participou dos consórcios que disputaram as licitações de Angra 3.

"Usamos a Link justamente em função da posição que ocupava o almirante como presidente da Eletronuclear sendo que a Engevix prestava serviços lá ( todos ganhos em licitações públicas acirradas como lhe documentamos). Investimos cerca de R$ 1 milhão, ao longo de 4 anos e conforme a necessidade, de acordo com o andamento da pesquisa", segue a mensagem.

A versão da empresa vai de encontro ao depoimento do presidente da Link e delator da Lava-Jato Victor Colavitti. Ele admitiu aos investigadores que sua empresa foi usada como intermediária para repasse de ao menos R$ 765 mil, de 2010 a 2014, entre a empreiteira Engevix e a Aratec Engenharia, que pertencia a Othon até fevereiro deste ano, quando ele transferiu a titularidade da empresa para sua filha, Ana Cristina Toniolo.

A Link é uma das quatro empresas intermediárias que estão sob investigação da Lava-Jato por fazer contratos com empreiteiras que venceram licitações da Eletronuclear e, em seguida, repassar os valores para a empresa do almirante.

A força-tarefa suspeita que Othon Pinheiro teria recebido um total de US$ 30 milhões em propinas de empreiteiras. Desse volume, R$ 4,5 milhões já foram rastreados na conta da Aratec Engenharia Consultoria. Segundo o Ministério Público Federal, a Engevix recebeu da Eletronuclear, com quem tem contratos firmados, pelo menos R$ 136.894.258,23 entre 2011 e 2013. A empreiteira também é investigada no esquema de corrupção instalado na Petrobras.

Tradução


A defesa do almirante afirmou à Justiça Federal que os R$ 4,5 milhões recebidos pela Aratec foram referentes a serviços de tradução prestados pela filha de Othon Pinheiro. Em depoimento à Polícia Federal no dia 30 de julho, o almirante negou que tenha recebido propinas.

Na ocasião, o almirante afirmou que "nunca recebeu nenhuma orientação de alguém da Eletrobras, do Governo Federal ou dos partidos políticos para que cobrasse das empresas que compunham o consórcio Angramon (que venceu a licitação de Angra 3) alguma doação a políticos ou partidos".

O ex-presidente da Eletronuclear declarou ainda que "nunca solicitou ou exigiu qualquer vantagem econômica para si ou sua família". Diante das acusações de que teria recebido propina, o presidente da Eletronuclear afirmou estar "profundamente consternado, pois nunca agiria dessa forma". Ele argumentou que tem "uma atuação profissional reconhecida e de longa data". Othon Pinheiro é referência no meio acadêmico brasileiro em energia nuclear, tido como o pai do programa nuclear brasileiro.

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