Os investigadores da Operação Lava Jato descobriram contas secretas no exterior ligadas ao presidente licenciado da Eletronuclear, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e sua filha Ana Cristina Toniolo. Segundo a força-tarefa do Ministério Público Federal, Othon e a filha não declararam à Receita Federal a titularidade de ativos fora do País. A Eletronuclear e a Usina de Angra 3 são alvo dos investigadores da Lava-Jato.
Em despacho que decretou a prisão preventiva do almirante, nesta quinta-feira (6/8) o juiz federal Sérgio Moro ressaltou que, que entre julho e agosto de 2014, a filha do executivo abriu uma conta no Banco Havilland S/A, em Luxemburgo, em nome da offshore Hydropower Enterprise Limited, com sede em Hong Kong. Os beneficiários da conta são a própria Ana Cristina e a Aratec Engenharia e Consultoria, empresa controlada pelo pai. Na ocasião da abertura da conta, a Lava-Jato já havia sido deflagrada.
A filha do almirante tem ainda, segundo os investigadores, uma offshore constituída no Uruguai, a Waterland.
Leia mais notícias em Política
O saldo das contas ainda é desconhecido, mas por meio de cooperação jurídica internacional o Brasil deverá receber cópias de extratos com a movimentação financeira das offshores.
"Saliente-se que nos documentos da offshore Waterland, faz-se expressa referência ao cliente como sendo "Othon Pinheiro da Silva", apesar da documentação formal estar em nome da filha. Destaque-se que nem a filha de Othon, nem o próprio Othon, declararam à Receita Federal serem titulares de ativos no exterior", apontou Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato.
Os documentos revelados pelo Ministério Público Federal indicam, para Moro, ;que as contas podem ter sido utilizadas para o recebimento de propina e ocultação e dissimulação do produto do crime, sendo de se destacar que uma delas foi aberta ainda no segundo semestre de 2012;.
O almirante teria recebido, pelo menos, R$ 4,5 milhões de empreiteiras que mantêm contrato com a Eletronuclear. Esse valor já foi rastreado na conta da Aratec Engenharia. Os investigadores suspeitam que a propina para o almirante da Eletronuclear pode ter chegado a R$ 30 milhões.
Othon Luiz foi presidente da Eletronuclear entre 5 de outubro de 2005 e 29 de abril de 2015, quando licenciou-se do cargo. Para a Polícia Federal, ele se afastou em decorrência de notícias sobre o possível envolvimento da Eletronuclear na Lava-Jato.
"O afastamento do cargo público em nada altera o risco à instrução ou investigação, pois a produção de documentos falsos pode ser feita fora da Eletronuclear", sustenta o juiz da Lava Jato.