Politica

Delegadas perdem 34% das chefias na Polícia Federal

Pesquisa inédita com mulheres da corporação mostra que chefias foram reduzidas mesmo no governo da presidente Dilma. Policial diz que faltam critérios objetivos para ascensão

Eduardo Militão
postado em 24/09/2015 06:20

No governo da primeira mulher a dirigir o país, a presidente Dilma Rousseff, as delegadas da Polícia Federal perderam 34% das chefias nos últimos anos dentro da corporação que é um dos orgulhos do Poder Executivo.

Os dados fazem parte de pesquisa inédita a ser apresentada nesta quinta-feira (24/9) pela Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), no 4; Encontro das Delegadas da PF, que acontece em Brasília até amanhã. O estudo da professora Maria Teresa Sadek, da Universidade de São Paulo, e de Tatiane da Costa Almeida ouviu 114 das 269 mulheres delegadas do Brasil. Elas são minoria na corporação, representando cerca de 10% do quadro total de delegados, de aproximadamente 2500 profissionais.

Dentre as que responderam à pesquisa, 48 delegadas afirmaram possuir algum cargo de direção em 2015. Mas dos últimos anos até 2014, elas acumularam 73 postos de comando.

Segundo o estudo, 81% delas consideram "importantíssimo" ou ;importante; a adoção de ;critérios objetivos para ocupação de cargos de chefia; como uma das propostas para melhorar o funcionamento da corporação.

Para a delegada Tatiane, a falta de critério é só um só dos motivos das perdas dos melhores cargos. Ela entende que é preciso haver escolhas menos subjetivas. ;Isso é uma das formas de nos proteger;, disse ela em entrevista ao Correio. ;Se os critérios forem objetivos, temos certeza que podemos concorrer em pé de igualdade com os homens.;

Para Tatiane, os dados mostram falta de inclusão feminina no serviço público. ;Veja que é um país em que a presidente é mulher. Às vezes as pessoas pensam que essa inclusão feminina está em todo o governo e ás vezes não está.;

Hoje, não há nenhuma superintendente regional, cargo máximo da PF em um estado (veja tabela abaixo).

De acordo com a pesquisa, 45% das delegadas já foram humilhadas pelo superior hierárquico. Da mesma forma, 45% já passaram por situação vexatória perante um colega de posto semelhante. ;Acreditamos que existe um componente de estar no órgão que é muito machista, porque tem muito mais homens que mulher;, disse Tatiane. ;O fato de a gente ser mulher realmente contribui para algum tratamento discriminatório.;

Estereótipo da força

A pesquisa será complementada com um estudo sobre os homens. Em 2001, a co-autora do estudo, Maria Tereza Sadek, fez análise com delegados da polícia Civil de dez estados do Brasil. Segundo Tatiane, esses levantamentos podem quebrar certos estereótipos sobre os policiais.

;Da mesma forma que existe um esterótipo de gênero, de que polícia está ligada à força, também existe uma demanda da sociedade por uma polícia mais ligada aos direitos humanos e à polícia assistencialista, prestadora de serviços. Nós pensamos que analisar as opiniões das delegadas vai contribuir com noção de o caminho para modernizar a polícia seja abrir as instituições para o ingresso de mais mulheres.;

A delegada afirma que a discriminação não se restringe à polícia, mas também a outras profissões consideradas masculinas, como os engenheiros, os motoristas de caminhão e táxi, os médicos cirurgiões e todos que lidam com as ciências exatas. ;São as instituições ;generificadas;, em que a masculinidade é construída;, avaliou Tatiane. ;Quando as mulheres entram numa instituição assim, o que resta a elas é imitar o masculino. Mas quando a gente imita o masculino, a gente nunca vai poder ser perfeita, porque as características femininas não são valorizadas.;

Segundo Tatiane, a solução é utilizar as qualidades das mulheres em seu favor. ;Uma forma de combater é mostrar que existem características que são femininas que podem ser aproveitadas. Na polícia, há essa maior capacidade de respeito aos direitos humanos e de aproximação com a comunidade.;

Negras

A pesquisa de Maria Tereza e Tatiane mostra que a quantidade de delegadas negras é menor do que a apurada pela pesquisa de 2001, que envolvia homens e mulheres na polícia civil. ;As mulheres negras estão perdendo o espaço. Hoje, na PF, ainda somos muito poucas. É a reprodução da realidade fora da polícia. É preciso políticas afirmativas para mudar esse quadro.;

O levantamento da ADPF mostra que,dentre as profissionais ouvidas, 49% ingressaram na corporação até 2003, no início do governo Lula. A outra metade, de 2004 para cá.

O Correio procurou a assessoria de imprensa da Polícia Federal para comentar o estudo, mas não obteve esclarecimentos até a noite de quarta-feira (23/9).

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