Politica

Governo tenta barrar crimes incluídos em projeto de repatriação de recursos

A regularização de recursos remetidos ao exterior anistiaria os crimes de sonegação fiscal, por exemplo

Agência Estado
postado em 28/10/2015 12:01
O governo trabalha nesta quarta-feira, 28, para retirar do projeto de repatriação de recursos brasileiros no exterior crimes que foram incluídos pelo relator da proposta, Manoel Junior (PMDB-PB), a contragosto do Palácio do Planalto.

Pelo projeto enviado pelo governo, a regularização de recursos remetidos ao exterior anistiaria os crimes de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, desde que não houvesse decisão final da Justiça contra o declarante.

O relatório, aprovado pela comissão especial na semana passada, inclui mais seis crimes na lista de anistia da proposta: contabilidade paralela (caixa dois), descaminho (deixar de recolher imposto por produto importado), uso de documento falso, associação criminosa, funcionamento irregular de instituição financeira e falsa identidade a terceiro para operação de câmbio

[SAIBAMAIS]O relator é aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de ter contas não declaradas na Suíça. De acordo com o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), haverá um esforço da base aliada para votar a íntegra da proposta apresentada pelo governo, e não a proposta do relator.

Leia mais notícias em Política

As modificações também incomodaram os oposicionistas, que consideram risco de "chancela"" recursos ilegais provenientes de corrupção. "Repatriar sem fazer análise de onde vêm esses recursos é chacota com o trabalhador brasileiro", disse o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA). "O dilema é como separar o joio do trigo. O texto do relator tem de ter aprimoramento", avaliou o líder da minoria, Bruno Araújo (PSDB-PE).

Multa
Outra mudança foi desvincular os recursos que o governo vai obter com a multa. Inicialmente, o governo iria direcionar todo o dinheiro arrecadado com a multa para um dos fundos que permitirão a reforma do ICMS, em negociação no Senado.

O projeto aprovado alterou isso: agora, os recursos serão direcionados para os Estados e municípios, seguindo os parâmetros de repasses dos fundos constitucionais, FPE e FPM, respectivamente.

Essa mudança pode atrasar a reforma do ICMS. Por outro lado, se o projeto for aprovado assim no plenário da Câmara e, depois, no Senado, o governo pode, no futuro, alterar a destinação desses recursos para o fundo da reforma do ICMS por meio de uma emenda constitucional.

O projeto também ampliou de 180 para 210 dias o prazo para regularização dos recursos de brasileiros no exterior. Com a ampliação de prazo, o governo já deu como perdida a chance de atrair recursos fiscais com o projeto ainda em 2015.

A expectativa inicial era de que o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária, que será criado com esse projeto de repatriação, pudesse render até R$ 11,4 bilhões ainda este ano - e R$ 150 bilhões no total. Com todos os trâmites que ainda passará no Congresso, além do prazo para sanção da presidente Dilma Rousseff e o prazo de 210 dias para regularização, o governo só deve começar a ver os recursos fiscais em 2016.

Estarão habilitados a regularizar sua situação fiscal os brasileiros com recursos ou patrimônio não declarados até 31 de dezembro do ano passado. Segundo o deputado José Mentor (PT-SP), o projeto continua proibindo que a regularização seja feita por brasileiros com recursos no exterior que tenham sido obtidos por tráfico de drogas e armas, extorsão mediante sequestro e corrupção. "O projeto atinge aqueles que tinham feito sonegação fiscal", resumiu o petista.

As outras alterações do parlamentar no texto do Executivo foram a redução do IR de 17,5% para 15% e também da multa, de 17,5% para 15%. Ao final, a tributação total caiu de 35% para 30%, além da mudança cambial.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação