Politica

Operação Zelotes: e-mail aponta propina para parlamentares

Em troca de mensagens interceptadas pela Polícia Federal, cobrança de US$ 1,5 milhão revela que deputados e senadores, cujos nomes não foram revelados, estavam envolvidos em negociação fraudulenta da MP 471. Montadoras e lobistas negam

Eduardo Militão
postado em 31/10/2015 08:05


Mensagens de correio eletrônico investigados na Operação Zelotes apontam que deputados e senadores deveriam receber uma parte de dinheiro de propina para negociação na Medida Provisória n; 471. De acordo com a força-tarefa do caso, a norma criada para estender benefícios fiscais para montadoras de automóveis, foi ;comprada; por um grupo de lobistas contratado pelas fábricas da MMC Mitsubishi e Caoa Hyundai no Brasil. Os empresários e os operadores negam.

Relatório da Polícia Federal, no entanto, afirma que as montadoras passaram a ser inadimplentes aos escritórios do ;consórcio; de lobby, formado pelo Marcondes & Mautoni, de Mauro Marcondes, pelo lobista Alexandre Paes Santos, o APS, e pela SGR Consultoria Empresarial, do ex-integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) José Ricardo Silva. Um relatório apreendido pela força-tarefa mostra os lobistas reclamando de que havia pagamento em atraso, o que prejudicava a quitação de compromissos com os ;colaboradores;.

A MP foi aprovada em 2010. Em 15 de outubro daquele ano, às 16h54, uma pessoa identificada como Raimundo Lira manda um e-mail para a secretária de Marcondes. Para a PF, o verdadeiro cobrador é o ex-suplente de deputado Halysson Carvalho (PMDB-PI), que utilizaria um nome falso. ;Peço-lhe que intervenha nos honorários dos quais a MMC vem pagando e a Caoa, não; os deputados e senadores dentre os escritórios e outros os quais não convêm (sic) citar nomes, agora;, disse o cobrador. Ele afirma que Marcondes ;alega ter entregado a pessoas do atual governo, PT, a quantia de R$ 4 milhões;. No entanto, a mensagem, supostamente de autoria de Halysson, diz que isso ;não é verdade;, mas desculpa para não fazer os pagamentos.

Ele estipula um prazo seis dias para o pagamento de US$ 1,5 milhão. Caso contrário, ameaça distribuir um dossiê a partidos de oposição e à imprensa sobre ilegalidades em benefício das duas montadoras. A secretária de Marcondes encaminha a mensagem para o chefe.

;Estarrecedora;
De acordo com a Polícia Federal, a extorsão revela destinatários da propina. ;Embora a ameaça possa parecer um pouco fora de contexto, na verdade ela confirma a possível corrupção para aprovação da citada MP 471;, diz relatório da PF. ;Os dados constantes delas são verossímeis e não fogem à realidade;, continua. ;O próprio valor comentado de R$ 4 milhões de reais que bate com o comentado no ;Café: Gilberto Carvalho; (anotação manuscrita apreendida) que integrava o governo do PT (também mencionado), por ser esse o então chefe de gabinete da Presidência.; Na interpretação da mensagem, a polícia narra que o cobrador ;pede a intervenção junto ao Mauro Marcondes, para pressionar a Caoa a pagar os honorários devidos aos deputados e senadores e escritórios;.

Em outra mensagem de e-mail, considerada ;estarrecedora; pela PF, José Ricardo passa aos sócios Eduardo Valadão e APS orientações ;para aplacar a sanha de cobrança dos parlamentares envolvidos na aprovação da Medida Provisória na Câmara dos Deputados explicando que os pagamentos dos ;acertos; seguiriam um ;fluxo normal;;. ;O que indica a possível corrupção de então parlamentares que ainda não foram identificados;, continua o relatório da polícia.

A PF e o Ministério Público não identificaram, pelo menos até agora, o nome dos parlamentares envolvidos. Na quinta-feira, o Correio revelou que o então deputado Moreira Mendes (PSD-RO) redigiu emendas na MP 512, sugeridas por pessoas ignoradas, que permitiram à Ford e à MMC se livrarem de R$ 3,2 bilhões em multas no Carf. O ex-parlamentar disse que fez as modificações ;sem nenhum tipo de compromisso;.

Marcondes e a mulher; APS; José Ricardo; e Halysson foram presos na quarta fase da Operação Zelotes, na segunda-feira.

Lobby legal
A Caoa Hyundai disse ao Correio que mensagens em poder da PF mostram que a empresa ;jamais realizou qualquer pagamento; para ;interferir; ilegalmente na aprovação da MP 471. Ela contratou a Marcondes & Mautoni cujo dono é um conhecido consultor do setor. Em 2014, ano em que a Caoa pagou R$ 8,4 milhões ao escritório, Mauros Marcondes passou a ;a apoiar e aconselhar; a montadora ;em diversos assuntos do setor automobilístico;. ;A Caoa reitera o seu compromisso com a ética, e repudia qualquer ato de corrupção;, afirma a nota.

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