A duas semanas do congresso do PMDB, no qual o partido deve atualizar seu estatuto e aprovar um novo programa, o bloco anti-Dilma da sigla adotou a estratégia de buscar protagonismo contra os correligionários governistas escolhendo como alvo ministros do partido. Eles acusam especialmente o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, de liderar um movimento para esvaziar o grupo e implodir o encontro da legenda.
"Os caras são empregados da Dilma. Não agem como ministros do Brasil, mas como ministros dela e do PT que são capazes de fazer qualquer tipo de serviço para evitar o impeachment", diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Ele e o irmão, o ex-ministro da Integração Nacional na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, Geddel Vieira Lima, que preside o PMDB da Bahia, são os porta-vozes da dissidência no partido.
"(Henrique) Alves queria que não houvesse congresso. Tudo para prestar serviço ao governo. Ele defende que o PMDB seja um sindicato viabilizador de empregos. Quem não quer que o partido se reúna é quem está empregado no governo. Não querem desagradar o empregador", afirma Geddel. Procurada pela reportagem, a assessoria do ministro não respondeu até a conclusão desta edição.
Na segunda-feira passada, Alves afirmou, em um almoço com empresários, em São Paulo, que a dissidência do PMDB "não é majoritária". "Não haveria, hoje, uma maioria no PMDB a favor do rompimento com o governo. Essa maioria não existe", disse.
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Marcado para 17 de novembro, em Brasília, o congresso do PMDB foi convocado inicialmente para que o partido também formalize a intenção de lançar candidato próprio à Presidência da República em 2018, o que sinalizaria desejo de rompimento com o governo Dilma. O tema da ruptura explícita poderá ainda estar presente caso seja votada alguma moção nesse sentido.
A ala governista trabalha para evitar que a questão do afastamento com o governo prevaleça no encontro. Mas a divulgação, na semana passada, de documento oficial do PMDB com críticas à política econômica - como a de que houve excessos por parte do governo em questões relacionadas ao equilíbrio das contas públicas - reanimou o grupo anti-Dilma.
Impeachment. A promessa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de dar prosseguimento em novembro aos principais pedidos de impeachment de Dilma também deram novo fôlego aos dissidentes. Peemedebistas ouvidos pelo Estado relatam que o bloco estava perdendo adeptos diante da paralisia de Cunha e da percepção de que o governo estava recompondo sua base no Congresso.
Para a oposição, o impeachment só será viável com o apoio de uma parte considerável do PMDB na Câmara, que tem 66 deputados. "Pela nossa contabilidade atual, já temos 25 votos garantidos pelo impeachment e outros cinco muito prováveis. O anúncio do Cunha de colocar em pauta em novembro e o documento do partido animaram muito o movimento", afirma o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). "O quadro fiscal vai piorar. Contamos com isso nos próximos 15 ou 30 dias. E a Operação Lava Jato é imponderável. O ambiente político vai nos ajudar para aumentarmos o número de votos na bancada."
Líder do partido na Câmara, o deputado Leonardo Picciani (RJ), faz outro cálculo sobre o movimento. "É muito difícil ter quórum para o impeachment. O governo está reconstruindo a maioria, embora não seja uma maioria tão ampla. O governo não perde mais votação de maioria simples. Está muito difícil para a oposição. A agenda do impeachment perdeu força", afirma.
Para Picciani, "são quatro ou cinco deputados que defendem o impeachment abertamente". Já Vieira Lima rebate: "Ele está completamente equivocado nessa conta".