Paulo de Tarso Lyra
postado em 04/11/2015 06:03
O processo que pode culminar com a cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teve início oficialmente nesta terça-feira (3/11). Mas se a vida dele não está fácil com as acusações de lavagem de dinheiro e cobrança de propina investigada na Operação Lava-Jato e com protestos de militantes do MST na porta da residência oficial em pleno feriado de finados, o peemedebista não pode reclamar do primeiro dia no Conselho de Ética. Dois dos três deputados sorteados para relatar o processo ; o favorito Fausto Pinato (PRB-SP) e Vinicius Gurgel (PR-AP) ; são de legendas aliadas a ele. O terceiro nome é do deputado Zé Geraldo (PT-PA).Leia mais notícias em Política
O nome do relator será anunciado hoje pelo presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA). ;Quero escolher um nome que dê celeridade ao processo e faça justiça, dando ao país a resposta que ele precisa;, disse Araújo. Integrantes do colegiado acreditam que Pinato ganha força por ser advogado e, em tese, ser mais resistente às pressões externas. Gurgel trabalhou na campanha de Cunha para a presidência da Casa, tendo sido, inclusive, coordenador da campanha no Amapá.
PR e PRB têm integrantes estratégicos na Mesa Diretora. O PR tem o segundo vice-presidente, Fernando Giacobo (PR-PR), e o líder da legenda na Casa, Maurício Quintella Lessa (AL), almoça constantemente com Cunha e outros parlamentares na residência oficial do peemedebista. Já o PRB está contemplado na Primeira-Secretaria com um dos mais fiéis escudeiros: Beto Mansur (SP).
;Qualquer um dos dois que for está escolhido. Só complica se o escolhido for o PT (Zé Geraldo);, admitiu um dos coordenadores da tropa de choque de Cunha na Casa, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP). ;Alguns até defendem que seja escolhido o Zé Geraldo, para deixar a bomba no colo do PT e ver o que eles vão fazer;, provocou o parlamentar.
Além de ser do PT, outras questões diminuem as chances de Zé Geraldo ser escolhido. Ele apoiou a representação feita contra Cunha na Corregedoria da Casa, o que, em tese, lhe torna impedido para relatar um processo sobre o qual ele já teria opinião formada. No mais, o petista paraense também poderia se sentir constrangido pela posição adotada, na semana passada, pelo diretório nacional do PT, que defendeu, seguindo as orientações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a bancada de deputados não partisse com muito fôlego para cima de Cunha para que este não acelerasse os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Oficialmente, os três sorteados prometem isenção. ;PT é PT, governo é governo e Conselho de Ética é Conselho de Ética. Se for escolhido relator, agirei de acordo com a minha consciência;, garantiu Zé Geraldo. ;Eu não tenho medo de pressão, quem pega pressão é panela;, afirmou Vinicius Gurgel. ;Quem está aqui e integra o Conselho de Ética tem que estar preparado para superar as barreiras;, completou Pinato.
Na prática, mesmo com arroubos de coragem proferidos pelos três candidatos a relator, o processo que se iniciará no Conselho de Ética é delicado. Primeiro, porque nunca um presidente da Câmara enfrentou um processo de cassação de mandato. Segundo, porque Cunha é temido por uma parte dos deputados e odiado por outros tantos, acusado de manipular os ânimos da Casa e de modificar as regras para garantir as vitórias nas matérias que lhe interessa.
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