Politica

Greve de caminhoneiros agrava dificuldades enfrentadas pelo governo

Comando Nacional dos Transportes aposta que paralisação da categoria, prevista para começar hoje, será maior que a realizada em março deste ano. Grevistas dizem que pautas econômicas se misturam à pressão por renúncia. Planalto monitora, sem esquema especial

Simone Kafruni, Paulo de Tarso Lyra, Hédio Ferreira Jr. - Especial para o Correio
postado em 09/11/2015 08:14
A greve de caminhoneiros marcada para hoje pode agravar ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo governo neste mês de novembro. Ainda não existe a certeza se a paralisação, que divide a categoria e tem como uma das principais bandeiras a renúncia da presidente Dilma Rousseff, poderá, isoladamente, causar graves transtornos ou provocar uma crise de desabastecimento no país. Mas o movimento pode se somar a outros elementos no caldeirão explosivo que amarga os dias do Planalto: os petroleiros da Petrobras estão de braços cruzados (leia mais na página 9), as investigações da Operação Lava-Jato seguem batendo às portas do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as matérias do ajuste fiscal que tramitam no Congresso não avançam ou são modificadas, perdendo a capacidade de arrecadação original. Comando Nacional dos Transportes aposta que paralisação da categoria, prevista para começar hoje, será maior que a realizada em março deste ano. Grevistas dizem que pautas econômicas se misturam à pressão por renúncia. Planalto monitora, sem esquema especial A paralisação prometida por motoristas de caminhão e transportadores rodoviários de carga não tem uma pauta clara de reivindicações. O movimento grevista alega que as condições de trabalho da categoria só pioraram desde a última greve, realizada em março e que provocou caos e desabastecimento por todo o Brasil. O líder do Comando Nacional dos Transportes (CNT), Ivar Luiz Schmidt, afirmou que a expectativa é de grande adesão. %u201CA greve será maior do que a que ocorreu em março%u201D, prometeu. Segundo a liderança, a categoria acredita que o impeachment pode se arrastar e a renúncia da presidente seria uma saída mais rápida para o país. %u201CNão estamos lutando como categoria, mas como cidadãos%u201D, alertou. Por não existir uma pauta de reivindicações a ser negociada, Schmidt ressaltou que não haverá mobilização dos caminhoneiros para virem a Brasília, como ocorreu em março. %u201CAgora, só queremos que a presidente renuncie e não precisamos ir à capital federal esperar por isso%u201D, disse. Para Schmidt, os sindicatos de caminhoneiros não estão apoiando os autônomos porque eles conquistaram o direito de cobrar uma taxa, exigida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que custará a cada transportador R$ 600 por ano. %u201CDe novo, quem não tem dinheiro é que terá de pagar. Hoje, existem 2,5 milhões de caminhões. Numa conta simples, serão R$ 15 bilhões a mais para o governo. E quem vai cobrar a taxa são os sindicatos. É uma mina de ouro para eles, por isso não estão nos apoiando e furam as greves%u201D, explicou. Frustração A indignação da categoria está intacta desde março, uma vez que a pauta de reivindicações não foi atendida, ressaltou o líder do CNT. Segundo Schmidt, o governo alega que atendeu dois itens: a formação de um fórum permanente de debates e a carência de 12 meses para pagamento dos financiamentos de caminhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Finame. %u201CNa prática, as seis pessoas do nosso movimento que participam do fórum só vão a Brasília para passear, porque não são ouvidas e tampouco atendidas. O restante são os antigos caciques dos sindicatos. Essa reivindicação deu com os burros n%u2019água%u201D, afirmou. Questões como a criação de uma tabela referencial do frete, redução do custo do diesel e a reserva de mercado de 40% nas cargas do governo para a categoria ficaram apenas na promessa. A mobilização toda ocorre por meio da página do comando no Facebook e por grupos de WhatsApp. Vice-presidente da CPI da Petrobras, o deputado Antonio Imbassahy (BA) acha natural que nenhum dos pleitos apresentados pelos caminhoneiros tenha sido atendido pelo governo. Ele lembra que o preço do diesel continua pressionado pela crise da Petrobras. Os pedágios não têm como ser revistos, já que são contratos firmados com as concessionárias. %u201CE a economia desaquecida impede o aumento no valor do frete. É o que chamamos de deseconomia, quando a retração puxa para baixo todos os indicadores%u201D, afirmou Imbassahy. O Ministério da Justiça decidiu mobilizar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) somente a partir de hoje %u2014 caso os bloqueios das estradas se confirmem. Até a tarde de ontem, não havia registro de nenhuma rodovia monitorada pelo órgão fechada por caminhões. Uma manifestação foi registrada próxima ao município de Vacaria (RS), porém sem incidentes.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação