Politica

Youssef indica ex-assessor de Palocci como destinatário de R$ 2 milhões

Segundo doleiro, há 70% a 80% de ele ser o beneficiário de dinheiro que, para a PF, pode indicar doação ilegal para a campanha de Dilma em 2010. Advogado diz que tudo é uma sucessão de mentiras

Eduardo Militão
postado em 09/11/2015 19:46
Um novo depoimento do doleiro Alberto Youssef trouxe mais uma pista para os investigadores da Operação Lava-Jato descobrirem se é verdade a suspeita de que a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff recebeu dinheiro desviado da Petrobras. Em 29 de outubro passado, ele afirmou à Polícia Federal que repassou R$ 2 milhões para uma pessoa indicada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa em um hotel em São Paulo em 2010. Ao exibirem a foto de um ex-assessor do ex-ministro Antônio Palocci, o doleiro confirmou que se tratava da mesma pessoa.

Paulo Roberto foi o primeiro a dizer que Palocci lhe procurara para repassar R$ 2 milhões à campanha do PT e que Youssef se encarregaria de fazer o trabalho. Mas o doleiro disse que não sabia desse envolvimento de Palocci e afirmou que nunca transportou dinheiro para o ex-ministro. No entanto, ao ser inquirido, Youssef afirma que, a pedido do ex-diretor da Petrobras, pagou uma pessoa no Hotel Blue Tree da avenida Faria Lima, em São Paulo, entre junho e outubro de 2010. A pessoa era branca, de altura maior que o delator ; 1,71 metro ;, de terno escuro com corte básico.

A PF exibiu a foto do ex-assessor de Palocci e da Casa Civil Presidência da República Charles Capella de Abreu, e o doleiro confirmou ser a pessoa com ;70% a 80%; de chances. ;Reconhece como sendo possível que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2.000.000,00;, consta no novo depoimento de Youssef, prestado em Curitiba.

;Mil mentiras;
O advogado de Palocci, José Roberto Batocchio, disse que as declarações do doleiro e também do lobista Fernando ;Baiano; Soares mostram que há ;mil mentiras; para esconder outras contadas anteriormente. O defensor se refere às contradições nos três depoimentos. Fernando Baiano disse, em 15 de setembro, que acertou um encontro entre ele, Paulo Roberto Costa e Palocci por meio de um amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pecuarista José Carlos Bumlai em 2010. Nesse encontro, ficou acertado o pagamento para a campanha de Dilma Rousseff com recursos do esquema. Mas o próprio Paulo Roberto nega a existência dessa reunião.

;Nunca tratou com Fernando Baiano sobre qualquer repasse de dinheiro a políticos do PT;, disse o ex-diretor da Petrobras em depoimento em 20 de outubro. No ano passado, o ex-dirigente afirmou que foi o doleiro quem lhe pediu os R$ 2 milhões para repassar à campanha por meio de Palocci, mas afirmou, agora em outubro, que não se reuniu com o ex-ministro. ;Nunca tratou com Antonio Palocci sobre qualquer auxílio financeiro para a campanha presidencial de 2010;, disse Paulo Roberto no mais novo depoimento.

Baiano afirmou em setembro que o repasse foi feito por Youssef, conforme soube do próprio doleiro em conversa na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. E, agora, o doleiro diz que pagou a pessoa semelhante a Charles.

No xadrez
O PT nega ter recebido doações eleitorais oriundas de esquema de corrupção na Petrobras ou não contabilizadas na Justiça Eleitoral. Para o advogado de Palocci, as declarações de Baiano e Yousseff foram ;idealizadas nas celas do xadrez;. ;Quem diz uma mentira tem que mentir mil vezes;, contou Batochio ao Correio.

O advogado defendeu a perda da validade das declarações da dupla e dos benefícios que obtiveram com delação premiada, como redução da pena nos processos em que forem condenados. ;Palocci nunca esteve com essas duas pessoas e não arrecadou dinheiro.;

A reportagem não localizou Charles Capella.

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