Agência Estado
postado em 10/11/2015 17:12
O filho do ex-deputado Fernando Diniz, o economista Felipe Diniz, contrariou a versão levantada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, em depoimento para a Procuradoria-Geral da República (PGR), negou que tenha ordenado depósito de 1,3 milhão de francos suíços, em 2011, em um fundo na Suíça que tem Cunha como "usufrutuário", na definição do próprio deputado.Cunha alegou que o montante foi depositado "à sua revelia" em 2011 pelo lobista João Henriques, que era ligado ao PMDB e foi preso na Operação Lava-Jato. O presidente da Câmara disse suspeitar que o depósito referia-se ao pagamento de um empréstimo feito por ele ao ex-deputado Fernando Diniz, do PMDB, morto em 2009.
À PGR, o filho de Diniz confirmou, em depoimento prestado no dia 20 de outubro, que seu pai mantinha uma relação próxima a Cunha, mas disse desconhecer a existência de qualquer empréstimo. O advogado do economista, Cleber Lopes, confirmou à reportagem o teor do depoimento de seu cliente e afirmou que a versão apresentada por Cunha "não convence ninguém".
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"Felipe nunca teve atividade político-partidária. Ele não tinha ingerência nas atividades do pai, mas essa versão não convence ninguém", afirmou o advogado, ressaltando que não quer "julgar a estratégia de defesa de ninguém".
Em depoimento à Polícia Federal, Henriques havia informado que enviou o dinheiro a pedido do Felipe Diniz e que não sabia quem era o beneficiário. Em 2007, primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Cunha e Fernando Diniz eram muito amigos e integravam o "núcleo duro" do PMDB na Câmara.
Nesse período, Diniz teria perdido muito dinheiro em negócios fora do País e por isso, na versão do lobista João Henriques, pediu ajuda. Cunha disse ter feito então um empréstimo de US$ 1,5 milhão para o colega. A dívida teria, segundo relatos, "morrido junto com Diniz".
Henriques afirmou à Polícia Federal que abriu uma conta na Suíça para pagar propina ao presidente da Câmara, mas não especificou valores nem datas. Segundo ele, a suposta transferência para Cunha está ligada a um contrato da Petrobras relativo à compra de um campo de exploração de petróleo em Benin, na África. As declarações ampliam as suspeitas sobre o presidente da Câmara, que já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro.
Lopes disse ainda que Felipe Diniz confirmou ter mantido contato com Cunha e teve alguns encontros com o deputado, mas reforçou que seu cliente não tinha conhecimento dos negócios do pai.
O advogado de Diniz confirmou que Henriques e seu cliente tiveram uma relação próxima na época em que o lobista trabalhava na BR Distribuidora, mas que desde 2013 eles não mantêm mais contato. "Viajaram juntos para a Argentina, porque ele queria ter experiência em negócios internacionais, fazer consultoria, mas daí a ter relações com negócios de Cunha na Suíça tem uma distância oceânica", afirmou.
Segundo o advogado, Diniz também disse não ter conhecimento, no depoimento prestado dia 20 de outubro à PGR, se o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada foi uma indicação de seu pai à estatal.
Henriques afirmou em depoimento que o ex-deputado Fernando Diniz - que presidiu o PMDB mineiro - o convidou para ser o diretor da área Internacional da Petrobras, mas o PT não aceitou a indicação. Quem assumiu o cargo foi engenheiro Jorge Luiz Zelada, que ocupou a cadeira de diretor de Internacional da estatal de 2008 a 2012. Zelada sucedeu Nestor Cerveró - ambos, Cerveró e Zelada, estão presos em Curitiba, base da Lava-Jato.
Procurado, Cunha, por meio de sua assessoria, disse que não tem uma nova posição sobre o assunto e que já havia comentado esse episódio na entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S Paulo.
Sobre a denúncia de ter recebido 1,3 milhão de francos suíços do lobista João Henriques, Cunha apresentou para a reportagem documentos que, segundo ele, demonstram que foram feitos cinco depósitos em 2011 no truste Orion, mas que não houve movimentação financeira desde então.