Politica

Propina de US$ 100 milhões teria motivado compra de refinaria da Petrobras

Novo delator afirma à força-tarefa que compra da refinaria de Pasadena foi motivada por interesses políticos do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli. MP quer anular negócio

Estado de Minas
postado em 17/11/2015 10:27


A compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, pode ter sido motivada por interesses políticos, e o fim do litígio com a sócia belga Astra Oil, que resultou na aquisição da totalidade das ações, pode ter rendido propinas entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. As informações foram dadas a investigadores da Lava-Jato na semana passada por um novo delator, Agosthilde Mônaco de Carvalho, funcionário da Área Internacional da estatal, que participou do negócio. A compra da refinaria é o alvo da 20; fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nessa segunda-feira (16). Carvalho afirmou que, em 2006, quando a Petrobras pagou US$ 416 milhões por metade de Pasadena, todos sabiam que a refinaria estava sucateada, com diversos equipamentos enferrujados - daí o apelido de ;ruivinha;. Ele disse ter ouvido de Nestor Ceveró, então diretor da Área Internacional, que matariam ;dois coelhos com uma única cajadada;, pois ele (Cerveró), sabia que José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, tinha ;alguns compromissos políticos a saldar; e, também, passariam a refinar óleo nos Estados Unidos.

[SAIBAMAIS]Logo após a visita às instalações da refinaria no Texas, ao alertar sobre as más condições, Carvalho teria recebido um recado de Cerveró: ;Não se meta, Mônaco, isto é coisa da presidência;. Segundo o delator, depois da compra a Petrobras passou a fazer, por ;baixo do pano;, um plano para dobrar a capacidade de refino de Pasadena, o que necessitaria de alto investimento. Aos procuradores, Carvalho disse que soube, por Failhaber, que o litígio entre a Astra e a Petrobras começou porque a estatal tentou empurrar ;goela abaixo; a ampliação da refinaria e a contratação da Odebrecht para fazer obra.

De acordo com o depoimento, a Odebrecht envolveria também na reforma de Pasadena as empresas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiróz Galvão e Ultratec. Failhaber teria dito a Carvalho que esse foi o verdadeiro motivo da abertura do processo de arbitragem contra a Petrobras. A briga entre Petrobras e Astra se arrastou por mais de dois anos.

Os investigadores da força-tarefa da Lava-Jato vão pedir a anulação da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. ;Vamos tentar anular a compra ou ressarcir o patrimônio brasileiro;, afirmou o procurador da República Carlos Lima, em coletiva na sede da Polícia Federal de Curitiba. ;Pasadena ainda se encontra em posse da Petrobras até onde sei. Houve pagamento de propina seja no nosso país, seja no Estados Unidos. Isso é um vício. Temos que buscar reparação. Esse foi um mau negócio;, afirmou Lima, parafraseando a ex-presidente da Petrobras Graça Foster que, ao admitir erros na aquisição da refinaria, também disse que a compra foi um mau negócio.

Corrosão
Em cumprimento à 20; fase da Operação Lava-Jato, chamada de Operação Corrosão, duas pessoas foram conduzidas por agentes da Polícia Federal à sede da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, na Praça Mauá, região central da capital fluminense, por volta de 9h dessa segunda-feira. São eles o ex-gerente executivo da área internacional da Petrobras Roberto Gonçalves e o operador Nelson Martins Ribeiro. Policiais federais que os acompanhavam levavam vários malotes, aparentemente com material apreendido.

Houve ainda cinco mandatos de conduções coercitivas (quando a pessoa é obrigada a depor e liberada logo em seguida) contra César de Sousa Tavares, ex funcionário da área internacional da Petrobras; Rafael Mauro Comino, ex gerente de inteligência da área internacional; Luís Carlos Moreira da Silva, substituto do Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, e principal consultor do caso Pasadena; Aurélio Oliveira Teles, funcionário da área internacional; e Carlos Roberto Martins Barbosa, também funcionário da área internacional. Já Glauco Colepicolo Legati, gerente de empreendimentos da área internacional, é alvo de busca por parte da PF.



A 20; fase investiga funcionários e ex-funcionários da Petrobras. Segundo a Polícia Federal, esta nova etapa da investigação envolve contratos relacionados com as refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Pasadena, nos Estados Unidos. Ao todo, foram liberados pela Justiça 11 mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão temporária e cinco mandados de condução coercitiva nas cidades de Rio de Janeiro, Rio Bonito (RJ), Petrópolis (RJ), Niterói (RJ) e Salvador.

Argôlo Condenado
A Justiça Federal no Paraná condenou nessa segunda-feira o ex-deputado federal Luiz Argôlo por crimes investigados na Operação Lava Jato. Ele é o terceiro político a ser condenado, após as condenações de André Vargas e Pedro Corrêa. Argolo foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 11 anos e 11 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro em regime fechado. Cabe recurso. Na mesma sentença, Moro deixou de condenar o doleiro Alberto Youssef e Carlos Alberto Pereira da Costa por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo ele, ambos já foram condenados pelos mesmos fatos criminosos em outros processos que tiveram a tramitação encerrada.

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