Jornal Correio Braziliense

Politica

Eduardo Cunha se beneficiou de MP do setor elétrico, afirma PGR

Procuradoria afirma ao STF que mudança em leis bancada pelo deputado prejudicou Furnas, comandada por indicado do deputado, e favoreceu aliado do parlamentar, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro

A Procuradoria Geral da República acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de mudar duas medidas provisórias em causa própria e de seu amigo Lúcio Bolonha Funaro. Em petição em processo sigiloso ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, o procurador Rodrigo Janot afirma que as Medidas Provisórias 396/09 e 450/08, que tratavam do setor elétrico, serviram para fins ilícitos. O objetivo de Cunha foi ;alterar a legislação energética, para beneficiar seus interesses e de Lúcio Bolonha Funaro no setor; (veja a linha do tempo abaixo).



Sete propostas
A PGR diz que, além das duas MPs, Cunha interferiu em ao menos sete propostas no Congresso em favor não só de Funaro, mas do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro: as MPs 575, 600, 627 e 656, além do projeto de lei PL 238/13.

O deputado se utilizou de outros parlamentares para alcançar seus objetivos. ;Eduardo Cunha se vale, habitualmente, de diversos deputados federais para realização de requerimentos (...) com fins nitidamente ilícitos, transformando o Congresso Nacional em um verdadeiro balcão de negócios;, disse Janot a Teori. Na semana passada, o presidente da Câmara se defendeu de outras acusações do procurador. ;Reitera que jamais recebeu qualquer vantagem indevida de quem quer que seja e desafia a provarem;, disse Cunha em nota.

Carros e perseguição
A PGR sustenta que Funaro ameçou testemunhas ligadas ao grupo empresarial Schahin, cujo executivo Salim Schahin fez delação premiada com a Lava-Jato. Também afirma que ele é operador de Cunha e pagou dois carros para o deputado.

Interlocutores de Funaro disseram ao Correio que ele é apenas um amigo de Cunha que lhe empresta dinheiro freqüentemente. Segundo eles, o empresário é ;perseguido; por governistas desde que fez delação premiada no caso do mensalão e ajudou a condenar líderes do Partido do Trabalhadores, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ; hoje preso por conta da Operação Lava-Jato.


Negócios autorizados
Como mudanças na lei beneficiaram empresário ligado a Cunha, segundo a PGR

20 de novembro de 2007
Eduardo Cunha torna-se relator da MP 396, que trata da apenas da troca de títulos do governo federal

Dezembro de 2007
Furnas e a empresa Oliver Trust são sócias na usina Serra do Facão, em Goiás. Por impedimento legal, Furnas renuncia à preferência de compra de ações da sócia. ;A manutenção da Oliveira Trust (sic) na sociedade tornou-se inviável;, informaria Furnas anos depois.

Semana do Natal de 2007
É criada a empresa Serra Carioca II, ligada a Lúcio Funaro.

9 ou 31* de janeiro de 2008
Sem poder vender sua parte para Furnas, a Oliver Trust vende suas cotas para a Serra Carioca II, de Lúcio Funaro. Preço: R$ 6,8 milhões.

12 de fevereiro
Eduardo Cunha insere uma emenda na MP 396 que permitiria a Furnas comprar o resto da sociedade, medida antes rejeitada.

7 de abril
O então presidente Lula converte a MP 396 na lei 11.651/08

Julho de 2008
Com a mudança na lei, Furnas compra a participação da Serra Carioca II na usina por R$ 80 milhões.

Janeiro de 2011
Furnas defende a regularidade do negócio com a Serra Carioca e diz que pagou R$ 75 milhões

Outubro de 2011
Auditoria CGU vê prejuízos de R$ 8,48 milhões nos negócios entre Furnas e Serra da Carioca

Novembro de 2015
PGR afirma que Cunha atendeu seus próprios interesses no negócio viabilizado pela mudança na MP 396.

*PGR e Furnas divergem sobre a data exata da venda. Fontes: PGR, Furnas e Câmara